Ambas as frases, tal como estão, são ambíguas ao nível da classificação.
Comecemos pelo primeiro caso. Poderíamos classificá-las como orações independentes justapostas (em parataxe), em que nenhuma das orações é constituinte da outra: «Saí para a rua à chuva, finalmente. Queria sentir a água sobre a minha pele seca.» Porém, é possível qualificá-las como integrantes de uma estrutura de orações encaixadas, contendo uma oração subordinante e uma segunda oração subordinada causal, em que se omite o elemento conector porque: «Saí para a rua à chuva, finalmente, (porque) queria sentir a água sobre a minha pele seca.»
No segundo caso revela-se a mesma ambigidade, pois, tal como no primeiro, é omitido o elemento conector. Desta forma, são possíveis as seguintes classificações:
a) Orações simples justapostas: «A terra seca encheu-se de festa. Nesse instante, a chuva caiu, salpicando o pó do chão.»
b) Orações coordenadas ligadas por conjunção copulativa: «A terra seca encheu-se de festa, (e), nesse instante, a chuva caiu, salpicando o pó do chão.»
c) Orações coordenadas por conjunção adversativa: «A terra seca encheu-se de festa, (mas), nesse instante, a chuva caiu, salpicando o pó do chão.»
d) Oração subordinante e oração subordinada causal: «A terra seca encheu-se de festa, (porque), nesse instante, a chuva caiu, salpicando o pó do chão.»
Note-se que «salpicando o pó do chão», em todos os exemplos, é uma terceira oração coordenada às anteriores, equivalente a «e salpicou o pó do chão».
Estas são as classificações sintácticas possíveis. No entanto, do ponto de vista semântico, optando pelo valor causal das estruturas subsequentes, podemos considerar ambas as orações subordinadas causais, sendo que a segunda tem ainda uma terceira oração encaixada, uma oração coordenada.