O exemplo que é dado pelo Dicionário Terminológico (DT) está certo, porque o sujeito nulo ocorre entre «quero» e «fumar», sendo assinalado por um pequeno travessão entre parênteses retos ([–]). Ou seja, eu é o sujeito explícito de «quero», enquanto o de «fumar» é nulo.1
A análise que o DT pressupõe é que o infinitivo que completa o verbo querer corresponde, de modo abstrato, a uma oração completiva, pelo que a frase poderia parafrasear-se do seguinte modo:
1. «Eu quero que eu fume.»
Acontece que em português, uma frase como 1 não é habitual. O que ocorre em português é o verbo querer ser considerado não um auxiliar, mas um verbo que seleciona uma oração subordinada com uma particularidade: se o sujeito de tal subordinada tiver a mesma referência que o de querer, a oração tem de estar no infinitivo (não flexionado), e o sujeito não é realizado, o que explica a frase 2, completamente correta:
2. «Eu quero [-] fumar.»
O [-] que aparece no exemplo do DT apenas indica que o infinitivo tem um sujeito que não se realiza, isto é, trata-se de um sujeito nulo.
1 Como se explica no DT, um sujeito nulo é um sujeito sem realização lexical, isto é, trata-se de um sujeito que não é marcado explicitamente por nenhuma palavra (o travessão entre parênteses indica a ocorrência de um sujeito nulo): «eu quero (–) comer»; «(–) quero um bolo»; «(–) dizem que ele ganhou a lotaria».