Seria necessário ter acesso ao contexto mais alargado da frase, para emitir um juízo com margem de segurança e confirmar que esta seria uma ocorrência mais correta ou estilisticamente mais adequada no português de Portugal.
Muitas vezes, este ou outro pronome demonstrativo pode revelar-se muito vago e gerar dificuldades na coesão textual. Por exemplo:
1 – A Igreja de Nossa Senhora das Neves é um monumento que data provavelmente dos tempos de Afonso III das Astúrias, quando em 872 o seu exército se aventurou pelos confins das Beiras. Nessa altura, ?esta/?aquela/OK ela foi construída para homenagear o santo padroeiro...
Em 1, a expressão «a igreja...» está demasiado afastada de esta, para tornar aceitável a ocorrência deste demonstrativo. Também o emprego de aquela torna a ligação semântica da sequência pouco natural, porque este demonstrativo costuma aparecer em correlação com este (exemplo: «Visitei uma igreja em Soure e uma capela em Tentúgal: esta estava fechada, mas aquela estava aberta ao público»). O pronome ela acaba por ser uma boa opção para retomar anaforicamente «a igreja...».
De qualquer modo, em Portugal, é opinião que o emprego do pronome sujeito de 3.ª pessoa do singular em referência a coisas se deve evitar – embora não seja impossível tal uso, conforme se observa na Gramática do Português da Fundação Calouste Gulbenkian (2013, p. 910):
«Os pronomes pessoais de 3.ª pessoa nominativos (com a função de sujeito), dativos (com a função de complemento indireto), oblíquos (com a função de complemento de uma preposição) e possessivos (com a função de complemento ou modificador de um nome) são usados sobretudo para designar seres humanos [...]. No entanto, com menos frequência, também podem referir coisas, animais, situações e conceitos abstratos, como se ilustra nos exemplos abaixo, alguns deles retirados do Corpus de Referência do Português Contemporâneo (CRPC):
[...] (31) a. Ainda no domínio das telecomunicações, a TV é, sem dúvida, uma das aplicações do electromagnetismo. Ela modificou profundamente a vida do Homem, a partir da sua descoberta. (CRPC, Cruz et al., Física8)»