A língua portuguesa permite-nos transmitir mensagens em todo o tipo de situações, desde as reais às simbólicas ou figuradas. Em princípio, os primeiros significados que as palavras têm no dicionário remetem-nos para situações neutras, sem juízos de valor. Por exemplo, a palavra amiga tem, no dicionário em linha da Porto Editora, os seguintes sentidos:
«amiga (nome feminino) 1. mulher que tem com alguém uma relação de amizade 2. colega 3. amante (Do lat. amíca-, "id.")»
Se repararmos bem, nas três acepções da palavra há um distanciamento gradual do sentido mais neutro da palavra que é veiculado em 1. Por vezes, este distanciamento é registado no próprio dicionário com informações referentes ao registo em que uma dada palavra adquire determinados sentidos, indicando se é um registo familiar, ou um sentido figurado.
Ao usar uma dada palavra numa frase ou num discurso mais ou menos elaborado, nem sempre o contexto em que a palavra surge nos permite saber qual dos sentidos deve ser activado, ou seja, considerado certo para que a mensagem seja eficaz. É neste contexto que surgem as aspas, que dizem ao leitor para não fazer uma leitura neutra do texto que tem à frente. Muitas vezes, mesmo em discursos orais, fazemos o gesto das aspas, tentando com esse gesto dizer aos nossos interlocutores que na palavra em colocamos as tais aspas “há gato”, ou seja, não deve ser lida de forma neutra.
Esse recurso às aspas não conduz, necessariamente, a uma interpretação negativa, mas é, com certeza, indicador de um sentido figurado, não literal, nem neutro.