Muitas vezes, um adjectivo ocorre com valor adverbial. Não é impossível, pois, atribuir ao adjectivo sozinha o valor de um advérbio. Se optássemos por essa interpretação, «sozinha», mantendo a sua flexão enquanto adjectivo, poderia ser encarado como um complemento circunstancial, ou, para utilizarmos a nova terminologia, como um modificador adverbial. Não é, porém, essa a interpretação que prefiro. Sigo, antes, a leitura dos gramáticos que, ao mesmo tempo que alertam para o facto de os verbos considerados copulativos poderem ocorrer como verbos plenos, como acontece com o verbo estar em «estou aqui», contrariamente a «estou triste», defendem haver verbos predominantemente plenos que podem ocorrer em construções nas quais funcionam como copulativos. Nessas situações, o adjectivo que segue o verbo concorda em género e número com o sujeito. Ora, é isto o que acontece na frase em análise: a) «A caneta deslizava sozinha sobre o papel.» b) «As canetas deslizavam sozinhas sobre o papel.» c) «O lápis deslizava sozinho sobre o papel.» d) «Os lápis deslizavam sozinhos sobre o papel.» Considero, pois, que se trata de um predicativo do sujeito, funcionando, nesta frase, o verbo deslizar como copulativo.