Antes de se entrar propriamente na resposta, é de referir que só os adjectivos admitem os graus comparativo (de igualdade, de superioridade e de inferioridade) e superlativo (absoluto e relativo). Esta chamada de atenção deve-se ao facto de a palavra ocre ser mais frequentemente usada como substantivo/nome, para designar a «argila colorida por um óxido e que se emprega na pintura» ou a «cor amarela acastanhada dessa argila», do que como adjectivo (de dois géneros) que caracterize algo «que tem a cor do ocre».
Ora, só nos casos em que ocre seja um adjectivo, que classifique ou caracterize um nome/substantivo, é que se pode formar qualquer um dos graus (comparativos e superlativos). Estaremos, então, perante frases do tipo «Aquele tecido ocre está manchado» em que se poderão formar os diversos graus:
«Aquele tecido, que é tão ocre como este, está manchado» (comparativo de igualdade).
«Aquele tecido, que é mais ocre do que este, está manchado» (compar. de superioridade).
«Aquele tecido, que é menos ocre do que este, está manchado» (compar. de inferioridade).
«Aquele tecido, o mais ocre, está manchado» (superlativo relativo de superioridade).
«Aquele tecido, o menos ocre, está manchado» (superlativo relativo de inferioridade).
«Aquele tecido muito ocre está manchado» (superlativo absoluto analítico).
«Aquele tecido ocríssimo está manchado» (superlativo absoluto analítico).
Tal como Edite Prada já explicitara:
«[...] a regra geral para a formação do superlativo absoluto simples, ou sintético, é acrescentar -íssimo ao radical do adjectivo, como em chique (chiqu + íssimo = chiquíssimo). As excepções a esta regra estão, normalmente, ligadas a palavras de origem latina, cujo radical é diferente do que as palavras têm em português. É o caso de pobre (em latim pauper). O superlativo deste adjectivo segue uma regra segundo a qual os adjectivos que em latim terminavam em -er no nominativo dobravam o -r- a que se acrescentava -imo. Coloca-se também um acento no e: pauper → paupér + r + imo = paupérrimo. É também o caso do adjectivo pessoal, que vai fazer o superlativo a partir do radical latino personalis. Note-se que muitos dos casos em que o superlativo é erudito, ou seja, construído a partir do radical latino, existe um outro, obtido a partir da palavra portuguesa, ou, como sói dizer-se, por via popular. Assim, pobre, além de paupérrimo, tem o superlativo pobríssimo, e pessoal admite a forma pessoalíssimo. Num texto formal é, todavia, preferível utilizar a forma erudita.»
A hipótese de "océrrimo" (forma inaceitável), colocada pelo consulente, deve-se, talvez, à associação a acérrimo, o superlativo sintético do adjectivo acre, gráfica e foneticamente bastante semelhante a ocre. No entanto, trata-se de realidades linguísticas diferentes, porque o superlativo sintético de acre se forma a partir do étimo latino: acer + érrimo, tal como foi exposto acima.
Ora, como se pode verificar em resposta de Carlos Rocha, ocre «tem origem na palavra grega okhra, «tinta amarela de origem mineral», derivada de okhrós, á, ón, através do latim ochra e depois pelo francês ochre», não se verificando nenhum dos casos para formar o superlativo em -érrimo (pois o étimo latino não termina em -er, mas, sim, em -ra), o que implica o uso da regra geral para os adjectivos «terminados em -a, -e, -o, [que] perdem essas vogais finais e se acresenta o sufixo -íssimo» (ocr + íssimo = ocríssimo).
No entanto, se a palavra ocre for um substantivo/nome, poder-se-á falar da formação de graus de outros tipos: o aumentativo (acrescentando-se os sufixos -ão, -zão, -zarrão) e o diminutivo (acrescentando-se os sufixos -inho ou -zinho: ocrezinho).