Sic é um advérbio latino que significa «assim», «deste modo», «desta forma». Por exemplo:
«Sic itur ad astra» («É assim que se chega ao céu»).
«Sic transit gloria mundi» («É assim que passa a glória mundana»).
Ao passar para as línguas novilatinas, este advérbio revestiu-se de novo matiz, pois deu origem a sim em português, si em francês e em catalão, sí em castelhano e sì em italiano. No entanto, é provável que este uso de sic como advérbio afirmativo já corresse em latim vulgar, pois conhece-se pelo menos um exemplo deste uso nas comédias de Públio Terêncio (195/185-159 a. C.). No caso do romeno, a matização foi ainda mais longe, pois de sic deriva a copulativa și* («e»).
Seja como for, o advérbio sic resistiu à voragem do tempo e ainda se usa em muitas línguas modernas, português incluído. Pospõe-se entre parênteses e serve para indicar, numa citação, que a palavra ou a expressão antecedentes, por muito estranhas ou erradas que possam parecer, se encontram tal e qual no texto original. Por vezes, quando o erro é crasso, o citador até apõe um ponto de exclamação (ou vários...) ao termo latino, para deixar bem vincado que aquele despautério é da responsabilidade do autor do texto original ou se deve à malícia de qualquer gralha desplumada. No fundo, ao escrever sic numa citação, é como se escrevêssemos sic scripsit, que é como quem diz «foi assim que ele escreveu (e não eu!)».
Parece-me haver certa tendência para os citadores se servirem do sic como arma de arremesso, como quem insinua inépcia do citado e, por contraste, argúcia da sua parte, quando a verdade é que nada nos obriga a reproduzir, numa citação sem caráter científico, erros que são gralhas evidentes...
* Pronuncia-se [ʃi], ou seja, como chi no nosso vocábulo chi-coração.