Há duas classes de verbos que ocorrem obrigatoriamente com predicativos: (i) os verbos copulativos (ser, estar, parecer, ficar, continuar, permanecer, tornar-se, etc.) e (ii) os verbos transitivo-predicativos (achar, nomear, designar, considerar, etc.) (i) exige a presença de predicativo do sujeito; (ii) exige a presença de predicativo do complemento/objecto directo. Ou seja, não existe a relação gramatical de predicativo do complemento/objecto indirecto.
Cunha e Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo 1984: 147) consideram que «Somente com o verbo chamar pode ocorrer o predicativo do objecto indirecto: "A gente só ouvia chamar-lhe ladrão e mentiroso" (Castro Soromenho, V 220); "Chamam-lhe fascista por toda a parte" (Ciro dos Anjos, M, 277)», sem, no entanto, deixarem de ressalvar que Epifânio da Silva Dias e Martinz de Aguiar classificam o complemento de chamar um complemento directo, independentemente da realização de forma dativa que assumir (lhe ou ao João).
Portanto, a dúvida está antes: em «chamaram-lhe ladrão» ou «chamaram-no de ladrão», lhe e o são dois modos de realização de uma mesma relação gramatical, ou correspondem a duas funções sintácticas diferentes? Desta resposta depende o apuramento do predicativo do complemento directo, por um lado, e o apuramento do complemento indirecto, por outro. Agora o que é teoricamente insustentável é considerar-se que um constituinte acumula as funções de predicativo do complemento directo e predicativo do complemento indirecto.