DÚVIDAS

O português do Brasil

Tendo em conta que:
– num artigo publicado há pouco tempo no "El Pais", afirmava-se que, ao contrário do castelhano, qualquer obra escrita em português tinha que ter sempre duas edições completamente distintas; a portuguesa e a brasileira;
– há uma semana, em Paris, constatei que em vários estabelecimentos uma bandeirinha do Brasil se encontrava afixada na montra. Intrigado, acabei por descobrir que isso significava que naquele estabelecimento falava-se o "brasileiro"...
Surge a seguinte questão: de que forma é que o acordo ortográfico de 86 tem permitido a efectiva convergência das duas (principais) versões do português? Acredita que tal vá se dar? E, a dar-se, será natural assumir que o resultado evidenciará os pesos relativos de ambos os países, i.e., o resultado será a sobrevivência do português do Brasil?
Muito obrigado pela atenção.

Resposta

Várias vezes aqui no Ciberdúvidas já foi referida a história dos acordos ortográficos. Houve muitos, a maior parte deles não respeitada. No caso, o acordo de 1986 não foi aceito, pelo que foi renegociado, surgindo um novo texto em 1990. Só que, como todo acordo internacional, para entrar em vigor deve ser aprovado pelos parlamentos de todos os signatários. Se não, vira letra morta.

O acordo ortográfico não significa a prevalência de uma variante do português. Apenas tenta unificar algumas situações (caem os acentos em «ideia» e «assembleia» no Brasil, por exemplo) e consagra a separação em outras, como facto e fato. Mas não vai mudar a fonética portuguesa nem a brasileira. O resultado não vai mudar a forma de falar de nenhum dos lados.

Cf. «Português de Portugal» é uma redundância?

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