Táctil-visual não se encontra registado em nenhum dos instrumentos linguísticos (portugueses e brasileiros) consultados.
No entanto, de facto, verifico que, através de uma pesquisa no Google, a referida expressão surge bastas vezes (sobretudo em sítios brasileiros) associada não só à área profissional da consulente como também, por exemplo, à classificação de solos.
Valorize-se ainda o facto de, em muitas das ocorrências observadas, a citada expressão surgir sem hífen.
Maria Helena Mira Mateus e outros (Gramática da Língua Portuguesa, 2003, p. 981), ao analisarem os compostos morfossintácticos que envolvem a coordenação de adjectivos (ex.: surdo-mudo = «surdo e mudo»), vertem a seguinte nota: «o comportamento morfológico destas formas não permite identificar nenhum dos seus constituintes como núcleo de toda a estrutura. No que diz respeito à flexão em número, verifica-se que todos os constituintes devem exibir idêntico valor» (ex.: surdos-mudos).
Seguindo esta linha de raciocínio, e tendo em conta que a formulaçã otáctil-visual é, tal como surdo-mudo, um composto morfossintáctico que envolve a coordenação de adjectivos (= táctil e visual), o seu plural deverá ser, do meu ponto de vista, tácteis-visuais.
Não posso, no entanto, terminar esta resposta, sem salientar a ideia de que a área do plural dos adjectivos compostos é terreno de areias algo movediças, pois os critérios descritos nas várias gramáticas de referência para a sua formulação estão longe de ser unânimes. Evanildo Bechara, por exemplo, na Moderna Gramática Portuguesa, p.146, reforça exactamente esta ideia:
«Com excepção dos casos mais gerais, não tem havido unanimidade de uso no plural dos adjectivos compostos, quer na língua literária, quer na variedade espontânea da língua. A dificuldade fica ainda acrescida pelo fato de uma mesma forma poder ser empregada como adjetivo ou como substantivo, e a cada uma dessas funções são atribuídos plurais distintos, especialmente nos dicionários. As denominações das cores é que mais chamam a mossa atenção neste particular. Assim, para "verde-claro" como substantivo, se atribui o plural "verdes-claros" e, como adjetivo, "verdes-claros"; já "verde-azul", substantivo ou adjetivo, é assinalado o plural "verde-azuis".». Realmente, uma breve pesquisa no Dicionário Houaiss, por exemplo, plasma tais constatações.»
Por outro lado, Cunha e Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo, p.253) concluem que, na pluralização dos adjectivos compostos, apenas o último elemento deverá receber a forma de plural, exceptuando, sem uma base de sustentação suficientemente clara, creio eu, a construção surdos-mudos. Sendo assim, à semelhança de «amizades luso-brasileiras», «reuniões lítero-musicais», «saias verde-escuras» e «folhas azul-claras», por exemplo, o plural de táctil-visual deveria ser, portanto, "táctil-visuais".
Porém, se analisarmos com algum detalhe a questão, parece-me ser necessário dar conta de duas breves notas:
1) No caso dos dois primeiros compostos elencados (luso-brasileiras e lítero-musicais), concluímos que luso- e lítero- são, na verdade, radicais, ou «elementos de natureza adjectiva de forma reduzida» (Rebelo Gonçalves, Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa, 1947), não podendo ser alinhados, portanto, com táctil-, visto que, neste caso, estamos a lidar com uma palavras independente;
2) No que diz respeito aos dois últimos composto elencados (verde-escuras e azul-claras), parece-me ser detectável uma clara diferença entre eles e táctil-visual: é que, nos primeiros, julgo que um dos elementos (no caso, o da direita) assume um claro domínio sobre o outro, ex.: escuras está directamente dependente de verde, isto é, explicita o tipo de verde de que se está a falar, e claras caracteriza azul. É como se, dentro do próprio adjectivo composto, existisse, digamos, uma espécie de hierarquia adjectival. Já no caso de táctil-visual, não se me afigura que seja possível identificar um dos seus constituintes como núcleo de toda a estrutura (ao contrário do que acontece com os compostos referentes a cores, em que, como vimos, existe um constituinte que se assume como núcleo). Para estes casos, em que ambos os constituintes exibem valor idêntico, não sendo detectada, portanto, uma relação hierárquica entre eles, como me parece ser o caso de táctil-visual, Mateus e outros (op.cit, p.981), reitero, sugerem uma flexão dupla, isto é, a pluralização dos dois elementos do composto.
Assim, retomo a minha proposta inicial para a flexão em número do composto em análise: tácteis-visuais.