O verbo interessar pode ser transitivo direto («o interessasse») ou transitivo indireto («lhe interessasse»). Com base em Mário Vilela (Dicionário de Português Básico, Porto, Edições ASA, 1991) e Celso Cunha e Lindley Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Edições João Sá da Costa, pág. 522/523), verifica-se geralmente que este verbo:
a) com complemento direto, ocorre nas aceções de «cativar o espírito» («a
história não interessa as crianças» = «... não as interessa») e «captar o
favor de» («o professor interessou o aluno pelo livro» = «...
interessou-o...»);
b) significando «dizer respeito a», seleciona complemento direto ou complemento indireto («este tema não interessa o público/ao público» = «... não o/lhe interessa»).
Note-se, porém, que há ocorrências de interessar que têm leitura ambígua, entre «cativar o espírito» e «dizer respeito a», podendo elas também aceitar um complemento indireto. Por exemplo, Celso Cunha e Lindely Cintra (ibidem) apresentam o uso de interessar como transitivo direto, na aceção de «captar ou prender o espírito, a atenção, a curiosidade» e «excitar a», mediante o seguinte exemplo: «As histórias de Zefinha não o interessavam.» (José Lins do Rego, Meus Verdes Anos — memórias, Rio de Janeiro, José Olympio, 1957, pág. 318). No entanto, a substituição de o por lhe não afeta a gramaticalidade da frase: «As histórias de Zefinha não lhe interessam.» Neste caso, a interpretação semântica do verbo não indica com clareza a opção sintática.1 Em síntese, fundando-me apenas na apreciação intuitiva de alguns dados e não encontrando tradição normativa contrária a rebater, considero ambos os usos corretos na situação que acabei de comentar.
1 Sugiro que a ambiguidade e a oscilação sintática de interessar tenha que ver com as relações de sinonímia que estabelece, por um lado com agradar, que é transitivo indireto («as histórias de Zefinha não lhe agradam»), e, por outro, com verbos transitivos diretos como atrair, fascinar ou seduzir («as histórias de Zefinha não o atraem/fascinam/seduzem»). Sobre estas oscilações, o consultor Luciano Eduardo de Oliveira aponta-me um caso em que, intuitivamente, parece preferível empregar apenas lhe; trata-se de uma construção em que interessar tem por sujeito uma oração não finita (o ? indica dúvidas sobre a aceitabildiade da sequência): «não lhe interessa ler» vs. ?«não o interessa ler». Contudo, a colocação da oração não finita no começo da frase parece-me compatível com a forma de complemento direto: «ler não lhe interessa» vs. OK «ler não o interessa». Deixo aqui estas observações sem mais comentários, a aguardarem uma futura discussão.