A palavra está aportuguesada como rácio, no Vocabulário Ortográfico do Português, do ILTEC, e no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Porto Editora, sendo-lhe atribuído o género masculino. Esta atribuição pode revelar-se discutível, quando se faz a história do termo.
Com efeito, tendo em conta que, etimologicamente, se trata de adaptação do substantivo latino ratĭo, -ōnis, do género feminino, reconheço que seria mais adequado dar ao termo português o mesmo género. É o que acontece no espanhol, onde, conforme indica o dicionário da Real Academia Espanhola, o vocábulo ratio surge registado como substantivo feminino e sinónimo de razón, no sentido de «quociente de dois números ou, em geral, de duas quantidades comparáveis entre si» (tradução livre de uma das aceções de razón no dicionário em referência).
O aparecimento da palavra em português parece resultado da prevalência do inglês na linguagem das ciências económicas, mas a atribuição do género masculino não se deve a essa língua, uma vez que esta não tem, morfologicamente, contraste de género.1 Por este motivo, o mais plausível é que, em português, o género masculino decorra da alusão a outra desse género, por exemplo, valor ou quociente.
Deste modo, estamos perante uma situação em que a introdução e o uso consolidado da palavra se fizeram à revelia de critérios etimológicos. Afirmar que só estes podem definir o que é correto parece-me excessivo, porque na língua se fixaram muitos usos e regras sem apoio na etimologia. Mesmo assim, penso que este é um caso em que valia a pena intervir uma entidade oficial que arbitrasse em matéria de decisões normativas, quer no sentido de aceitar o uso generalizado ou aconselhar uma alternativa mais fundada.
1 Só ocorre pronominalmente — he, «ele», she, «ela», it, neutro, próximo do sentido dos demonstrativos portugueses isto, isso, aquilo — ou em certos substantivos, que têm género inerente (boy, «rapaz», girl, «rapariga»).