Diz-se «o camisola amarela», e não «a camisola amarela», porque a referência não é à camisola amarela, mas «ao corredor que vai de camisola amarela». Subentendem-se as palavras que, na frase seguinte, vão entre colchetes: «o (corredor de/da) camisola amarela».
São muito vulgares em português os casos em que o artigo masculino não concorda com a palavra que se lhe segue, mas com uma palavra/ideia que se subentende ou que subjaz em nossa mente:
1) O Notícias [ = O (Diário de) Notícias].
2) O União [= (clube) União].
3) A Cais [= A (revista) Cais].
Em alcunhas, como:
4) O Galinha, o Orelhas, o Salsichas.
Em designações de qualidades:
5) Ele é um galinha, um truta, um águia.
Nos casos 4) e 5), o artigo concorda com a ideia que nos subjaz na mente; isto é, como o ser masculino que tem determinadas qualidades/ particularidades que vemos na galinha, nas orelhas, nas salsichas, na truta, na águia.
Também se emprega correctamente o artigo substantivando frases:
6) Ele é um Nossa Senhora não te rales.
7) És um faz-tudo.
O tal chama-se «o camisola amarela», porque traja uma camisola daquela cor como indicativo do que é o corredor que fez em menos tempo os quilómetros percorridos até aquele momento.
Cf. Ir à morte, seguir na roda ou descolar. O dicionário para totós da Volta a Portugal