DÚVIDAS

«O bem que se está aqui!»

Gostaria de saber se as frases «O bem que se está aqui!» ou «O difícil que é sermos nós próprios!» podem ser consideradas gramaticais e aceitáveis, enquanto processos de focalização com valor enfático, que as torne equivalentes de estruturas exclamativas como «Que bem que se está aqui!» ou «Que difícil é falar línguas estrangeiras!»
Obrigado pela vossa atenção.

Resposta

Qualquer um dos quatro exemplos que apresenta se insere na descrição feita acerca das exclamativas na Gramática da Língua Portuguesa, de Mira Mateus e outras. O artigo referente às exclamativas, da responsabilidade de Inês Duarte (p. 479 e ss.) fala de exclamativas totais, em que a ênfase, se assim pretendermos chamar-lhe, é feita, com ou sem introdução de elementos enfáticos, mas sem haver alteração da ordem canónica dos elementos sintácticos e sem se verificar elipse. Nos exemplos em apreço, não me parece que haja elipse de elementos, mas há deslocação face à posição canónica, razão pela qual se inserem no âmbito das exclamações parciais. Vejamos:

«O bem que se está aqui!»/«Que bem que se está aqui!» (parcial) → «Está-se bem aqui!» (total)

«O difícil que é sermos nós próprios!»/«Que difícil é falar línguas estrangeiras!»
→ «É difícil sermos nós próprios!»

Há outras características que permitem fazer uma distinção mais fina dos quatro exemplos. Caso lhe interesse, aconselho-a a ler o artigo referido acima. No contexto da questão que nos coloca, creio tratar-se de quatro exemplos aceitáveis, no âmbito da focalização ou topicalização.

 

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