Em primeiro lugar, é importante observar que, tipicamente, advérbios do tipo de claramente, por si só, não são determinantes na sele{#c|}ção do modo indicativo ou conjuntivo de uma dada oração. A comprová-lo, observem-se as seguintes frases:
«O escritor recusou claramente que as suas obras fossem publicadas após a sua morte.»
«O presidente da empresa solicitou claramente que todos os seus colaboradores comparecessem à reunião.»
Na realidade, e apesar da presença do advérbio claramente, a substituição do modo conjuntivo pelo indicativo, em frases como estas, dá lugar a resultados inequivocamente agramaticais, como os exemplos seguintes nos confirmam:
* «O escritor recusou claramente que as suas obras eram/são/vão ser publicadas após a sua morte.»
* «O presidente da empresa solicitou claramente que todos os seus colaboradores compareciam/comparecem à reunião.»
Após esta importante advertência inicial, passemos à análise concreta da frase que suscitou as dúvidas indicadas na pergunta. Aqui, o modo conjuntivo surge numa oração subordinada relativa, cujo antecedente é a palavra tempo. Ora, a alternância entre o modo indicativo e o modo conjuntivo em orações relativas é um fenómeno bastante frequente no português, tendo interessantes consequências a nível semântico. O contraste que a seguir apresento ilustra o que acabo de referir:
«A Cristina quer comprar uma casa que tem três quartos.»
«A Cristina quer comprar uma casa que tenha três quartos.»
Na primeira frase, com o uso do indicativo, postula-se a existência de uma casa concreta com três quartos que a Cristina quer comprar. Já na segunda, em que surge o conjuntivo, apenas são referidas as características ou propriedades abstratas da casa que a Cristina quer comprar, nada sendo afirmado acerca da sua existência concreta. Por conseguinte, construções com orações relativas integrando o conjuntivo são perfeitamente possíveis e naturais em português.
Retomemos a frase em apreço: «Merece claramente o tempo que se perca (ou ganhe!!!) com ele...» Nesta construção, o advérbio claramente parece ter unicamente escopo sobre a oração principal, ou seja, claramente modifica apenas a predicação encabeçada por merece. Na realidade, uma frase como esta poderia incluir um outro advérbio, de sentido diferente, a modificar a oração relativa: «Merece claramente o tempo que eventualmente se perca (ou ganhe!!!) com ele...» É este, de resto, o significado para que aponta o uso do conjuntivo na presente relativa: o autor do texto não sabe se os seus leitores irão ou não gastar tempo a ouvir a música de que está a falar, sendo o modo conjuntivo utilizado para dar conta dessa incerteza.
Em suma, tendo em conta (1) que um advérbio do género de claramente, por si só, não revela a capacidade de determinar ou de selecionar o modo (indicativo ou conjuntivo) de uma oração; (2) que a alternância entre o modo indicativo e o modo conjuntivo em orações relativas é perfeitamente viabilizada no português e (3) que, na frase apresentada, o advérbio claramente modifica apenas a oração principal, não interferindo com a leitura da relativa, não existem razões linguísticas para considerar a frase mal formada ou contendo qualquer tipo de anomalia; o uso do conjuntivo está perfeitamente correto, na medida em que reforça a ideia de "incerteza" quanto ao comportamento dos leitores do fórum face à sugestão apresentada pelo autor relativamente ao uso do "tempo" de que dispõem.