É correto o uso de sartorial.
Trata-se de adjetivo registado no Dicionário Houaiss, derivado sufixal de sartório (cf. laboratório, laboratorial), termo da área de anatomia usado como substantivo masculino, na acepção de «músculo longo e estreito situado na região anterior e interna da coxa; músculo costureiro», ou como adjetivo, significando «designativo do músculo localizado na parte anterior da coxa» (edição em linha do Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora). Não se pode dizer que sartório seja um neologismo, uma vez que a sua datação recua, pelo menos, a finais do século XIX (cf. Dicionário Houaiss, que refere atestação de 1899). Quanto a sartorial, o registo a que faço referência é de facto muito mais recente, pelo que se pode ainda considerar um neologismo. No entanto, a sua formação enquadra-se nos casos de formas vocabulares que ocorrem esporadicamente porque resultam da produtividade de certas regras e esquemas linguísticos.
Em relação à etimologia destes termos, considera-se que sartório procede do latim científico sartorius, com o mesmo significado, por sua vez formado a partir do latim clássico sartor, ōris, «emendador, remendão», «do radical de sartum, sup[i]n[o] de sarcīre, "coser, remendar, reparar, consertar"» (Dicionário Houaiss).
Saliente-se, portanto, que muito do vocabulário científico do português não é resultado direto do latim clássico, pois grande parte dos termos são criações feitas a partir de uma modalidade mais recente do latim, usado como veículo da erudição e da produção intelectual internacionais até ao século XIX. Ou seja, esses termos surgiram não no quadro das relações genéticas do português com o latim, mas, sim, no contexto mais recente do uso do latim por investigadores cujas línguas maternas eram, por exemplo, o francês ou o inglês.