DÚVIDAS

Novo AO, oposição portuguesa, sintaxe

Vejo comentários nesta página (não gosto de site ou sítio, pois não descrevem a realidade, vez que o se busca não é a localização lógica do servidor da página, mas sim do conteúdo, ou seja, a página) acerca do acordo ortográfico celebrado entre o Brasil e Portugal e espanto-me (vou utilizar a norma aqui, embora normalmente eu jamais falaria utilizando a ênclise) com o tom raivoso dos portugueses. Primeiro, porque a repercussão desse acordo aqui no Brasil foi mínima, ou seja, os brasileiros não deram por ela. Segundo, eu pergunto e se em vez de o acordo cortar os "c" e os "p" inúteis das palavras o Brasil passasse a escrever dessa forma haveria tanta gritaria em Portugal? Acho que não!

Eu acho que a questão para tanto barulho por algo que não tem som não tem origem na língua, mas sim no fato de Portugal estar sentindo-se colonizado pela colônia. Nós poderíamos chamar esse sentimento de complexo de metrópole.

Será que é isto que está "a ocorrer" (como vocês podem ver, eu posso escrever utilizando formas portuguesas sem maiores problemas. E os portugueses podem fazer o mesmo?)?

Coloco as duas questões para apreciação, embora reconheça que não são sobre a língua, mas sim sobre geopolítica.

Resposta

Vou responder ponto por ponto às suas questões.

1 — Compreende-se que os brasileiros não gostem da designação sítio para substituir o inglês site, pois no Brasil está muito generalizado o sentido de fazenda pequena. Note que página tem também o inconveniente de poder ser metonimicamente um singular a representar um plural.

Em Portugal, está dicionarizada a designação sítio, na Internet; mas é muito frequente a pronúncia ¦saite¦ (neste caso recomenda-se a escrita com aspas altas ou itálico). Pode ser que acabe por se cristalizar (e é a minha proposta) uma grafia que siga o critério fonético: “saite”, como aconteceu com o futebol (de "football"), que já não escandaliza ninguém.

2 — Não há tons raivosos contra o Brasil nos oponentes do acordo em Portugal; mas simplesmente o desejo de conservar a história das palavras. As grafias com as consoantes mudas obedecem à etimologia e são defendidas por alguns, na ideia de que ajudam na pronúncia portuguesa da vogal anterior, como em acção (defesa, porém, que já não é válida em accionar…).

Note que a simplificação brasileira pode ser também manifestamente excessiva em Portugal. Nós não podemos usar o vosso fato para substituir o nosso facto, porque a grafia fato tem para nós o sentido que tem terno no Brasil.

3 — Não há nada a ideia de estarmos a ser colonizados pelo Brasil. Temos simplesmente orgulho numa língua que espalhámos pelo mundo e de que nos sentimos obreiros originais. As pessoas que são a favor do acordo, como eu, reconhecem o enorme empenho, em competências e investimento, que o Brasil está a fazer pela sua língua, não deixando generosamente de a designar portuguesa. Bem hajam!

4 — Não mude a sua sintaxe quando nos escrever. Na língua planetária que vamos agora construir em conjunto (com um só dicionário), todas as variantes legítimas nas diversas comunidades linguísticas serão legítimas no universo desta nossa amada língua comum.

Um grande abraço do irmão na língua.

Ao seu dispor,

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa