Na Norma de 1945 podia-se distinguir claramente a região (termo registado na norma) da orientação, grafando o ponto cardeal com maiúscula para a região e com minúscula para a orientação: «o Norte do Brasil» → a região que fica no norte do Brasil; «o norte do Brasil» → que fica na zona do Brasil orientada a norte.
Agora o novo acordo regista: «Maiúscula nos pontos cardeais, quando empregados absolutamente» («Norte, por norte de Portugal»).
Em primeiro lugar temos de interpretar o que os legisladores quiseram dizer com o termo absolutamente. Pode ser: «concentrando tudo», o que, em conjunto com a ideia deixada pela preposição por, pode significar que Norte será simplesmente uma redução de «norte de Portugal»; e, como acontece com as abreviaturas dos pontos cardeais, terá obrigatoriamente de ser escrita com inicial maiúscula. Assim, na palavra Norte não há qualquer consideração sobre regiões ou qualidades particulares, como há na norma anterior. Unicamente se considera a orientação da zona no país. Esta ideia é confirmada pela expressão Ocidente, por «ocidente europeu». Como se sabe, a palavra Ocidente (inicial maiúscula) pode representar a civilização ocidental (tradicionalmente o ocidente da Europa mais américas).
Nesta interpretação, a língua perde virtualidades, pois, por exemplo, quando queremos referir-nos em particular à região portuguesa na qual se tem considerado o Porto como capital, dizemos «o Norte»; e não estamos só a referir-nos a orientação no país; mas a todo um conjunto de vivências da nobre gente nortenha.
Outra interpretação de absolutamente pode ser: «sem restrições». Então, podemos dizer que a palavra Norte significa orientação e região (concentrando tudo e sem restrições...). Nesta ideia agora, quando escrevemos que o Minho se localiza no Norte, podemos querer dizer simplesmente que o Minho está orientado a norte no país, ou que o Minho pertence à região Norte.
Temos, porém, de aceitar que a norma atual permite ambiguidades. Esta dupla interpretação é, por exemplo, válida para os típicos mirandenses (que se localizam no norte de Portugal)? Pertencem à região Norte?
Como em muitas outras recomendações do Acordo de 1990, os legisladores não foram muito perfeitos neste caso.
Sem pretender fazer doutrina, eu respeito o texto do Acordo, mas penso que me assiste o direito de o completar. Na dúvida, respeito a tradição quando esta conserva as virtualidades da língua.
Em resumo, aceitando o duplo significado de Norte para orientação e região, nada me impede de escrever: «O Minho localiza-se no norte de Portugal» e «O Minho faz parte do Norte (região), de Portugal».