Atendendo a que os princípios que definem a acentuação gráfica no Acordo Ortográfico de 1945 (AO 45) não se alteraram substancialmente com o novo acordo (a questão dos acentos gráficos põe-se apenas em palavras graves, sobretudo com função diferencial), considero mais adequado escrever multiúsos, com acento, justamente para impedir a leitura da sequência como ditongo («para desfazer o ditongo»), à semelhança do que acontece com miúdo ou viúvo (mas não com oriundo) – cf. Base XIV do AO 45 e Base X, 1.ª do Acordo Ortográfico de 1990.
No entanto, a palavra está registada como multiusos em dois dos vocabulários ortográficos disponíveis em Portugal – no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Porto Editora, em linha na Infopédia; e no Vocabulário Ortográfico do Português, no Portal da Língua Portuguesa. Além disso, já outros consultores do Ciberdúvidas confirmaram esta forma, como foi o caso de José Neves Henriques, que a propôs com base num argumento morfológico:
«[...] estamos, geralmente, conscientizados de que multiusos tem o elemento multi (= muitos) e o elemento usos. É mais uma particularidade que nos leva, na pronúncia, a fazer uma separaçãozita entre multi e usos, o que evita que façamos o ditongo ui.»
Acontece, porém, que as regras de acentuação do português tomam cada palavra como um todo e não atendem aos acentos secundários eventualmente associados a prefixos derivacionais ou radicais de composição. Sensível a este princípio, parece-me ser o mais recente dos vocabulário ortográficos – o Vocabulário Ortográfico Atualizado da Língua Portuguesa (2012), da Academia das Ciências de Lisboa –, que apresenta a forma com acento gráfico, multiúsos. Também o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa consigna esta forma.
Quanto a multiuso e multiusos, são ambas palavras corretas, mas a forma que parece ter preferência no uso e nos dicionários é multiusos (ou, por outra, multiúsos), conforme se pode verificar no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora e no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (este acolhe também multiúso, mas remete esta forma para multiúsos, donde se infere ter esta a primazia).
Por último, cabe-me dizer que um pavilhão multiusos/multiúsos não costuma ser o mesmo que uma arena, pelo menos em Portugal, mas não é impossível que, dada a sua multifuncionalidade, tal pavilhão possa ser usado como arena ou fique assim transformado.