Efetivamente, o uso tradicional da palavra molho é feito com um adjetivo ou uma expressão que exprimam o aspeto, o ingrediente ou o modo de preparação que o distinguem: «molho branco», «molho de tomate», «molho à espanhola». Contudo, há exceções: «molho béchamel», por exemplo, em que béchamel não é historicamente um adjetivo (embora usado como tal)*, mas, sim, um substantivo que se justapõe como um aposto especificativo, como se à palavra molho se juntasse um nome que se comporta como uma marca, à semelhança de «molho Worcester» ou «molho Worcestershire», mais conhecido como «molho inglês» (esta expressão está mais generalizada, muito provavelmente pela dificuldade de leitura do topónimo inglês). Mas estes últimos exemplos obrigariam a que Cervejeira fosse interpretado como substantivo, pressupondo a existência de uma cervejaria ou uma fábrica de cerveja chamadas «a Cervejeira», e se escrevesse sempre com maiúscula, como nome próprio, de modo a permitir a referida justaposição: «molho Cervejeira». Caso não se use cervejeira como aposto, a alternativa será reconhecer que a palavra é adjetivo e pode haver erro de concordância, sendo necessário afeiçoá-la ao padrão tradicional, por exemplo, «molho cervejeiro» ou «molho à cervejeira» (neste caso, a maiúscula não seria obrigatória).
* O caso de «molho béchamel», de que o Dicionário Houaiss faz o aportuguesamento bechamel, classificando a forma como um substantivo, configura o uso adjetival dessa palavra para modificar molho. O empréstimo béchamel vem do francês, tendo origem no nome próprio Béchamel, apelido do gastrónomo francês Louis de Béchamel (1630-1703), marquês de Nointel - cf. Trésor de la Langue Française.
N.E.– Molho, no sentido em apreço – o líquido usado na culinária –, pronuncia-se com o primeiro o fechado, tanto no singular como no plural. Já a palavra homógrafa, com o sentido de «feixe», «braçada» ou «conjunto de coisas agrupadas», pronuncia-se com o o aberto, no singular como no plural.