«Meninos, não sujem as mesas» e «Meninos, não sujeis as mesas» são duas frases imperativas com o mesmo valor: o de ordem, de conselho ou de pedido.
De facto, o uso tem vindo a preferir (e a consagrar) a primeira forma — «não sujem» —, associando a segunda («não sujeis») a um nível de língua erudito praticamente em desuso, pois as formas da segunda pessoa do plural têm vindo a decair no discurso do quotidiano. Algumas ocorrências de tais formas figuram nos discursos religiosos, marcados pelo rigor e pela formalidade linguística.
Na realidade, o uso de formas que impliquem o pronome vós parece criar distanciamento entre o emissor e a(s) pessoa(s) a quem se dirige(m). Deve ser essa a razão pela qual «o pronome de segunda pessoa do plural — aplicável quer a uma entidade plural quer a uma entidade singular para com a qual se pretende patentear um sentimento de respeito — é, em grande parte de Portugal, substituído pelas formas de tratamento você, vocês. Embora estas formas de tratamento tenham como destinatário o interlocutor do falante, e por isso sejam semanticamente equivalentes a uma segunda pessoa, gramaticalmente são de terceira pessoa do singular (você) e do plural (vocês). Nestes casos, o conjuntivo presente na terceira pessoa do singular e do plural surge como supletivo do imperativo» (Mira Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Caminho, 2003, pp. 451-452).
Portanto, se a consulente não usa a construção «Meninos, não sujeis as mesas», é porque não quer criar (nem impor) o distanciamento entre si e os «meninos».