Pode considerar-se, de facto, a presença da lítotes (ou litotes), se tivermos em conta que há aí «uma ironia da dissimulação com valor perifrástico, que consiste em obter grau superlativo pela negação do contrário» (João David Pinto Correia, "A expressividade na fala e na escrita", in Falar Melhor, Escrever Melhor, Lisboa, Selecções do Reader´s Digest, 1991, p. 501).
No entanto, se considerarmos o valor do oxímoro (ou oximoro), enquanto uma «variante especial da antítese de palavras isoladas […] que constitui, entre os membros antitéticos, um paradoxo intelectual», «paradoxo» este que pode resultar de «uma tensão entre o portador da qualidade e a qualidade em si»; da «tensão entre qualidades»; ou da «distinção que afirma a existência e inexistência simultâneas de uma mesma coisa» (idem, p. 500), apercebemo-nos de que nessa frase se joga, também, com o paradoxo, o que nos conduz, naturalmente a esta figura de expressividade.
Há uma linha muito ténue entre estas duas figuras, pois tanto o oxímoro (ou oximoro) como a lítotes (ou litotes) se enquadram nas figuras de pensamento com efeitos de comparação, distinguindo-se pelo tipo de efeito que gera a respectiva comparação. Com o oxímoro verifica-se, a par da antítese e da adynaton1 , esse efeito por oposição, tratando-se de uma espécie particular de antítese, enquanto com a lítotes (ou litotes) o efeito de comparação surge por atenuação, pela carga de ironia que a atravessa.
1 Segundo Pinto Correia (op. cit., p. 500), adynaton é um «processo que consiste na afirmação exagerada do paradoxo de duas situações vividas, caracterizando principalmente o discurso amoroso de alguns poetas: "Que puderam tornar o fogo frio" (Camões, Sonetos, n.º 10)».