Em inglês, usa-se realmente “incumbent” como nome e adjectivo, no sentido de «titular» (cf. Oxford Portuguese Dictionary). Além disso, é adjectivo, por exemplo, na expressão “to be incumbent upon/on one”, «ser obrigação de» (Webster’s Dicionário Inglês-Português, Lisboa, Círculo de Leitores).
Em português, incumbente encontra-se dicionarizado como adjectivo no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, nas cinco acepções seguintes (resumidas): 1 «inclinado para baixo»; 2 «que se apoia sobre o dorso, quando em repouso (diz-se de asa de inseto)»; 3 «que se localiza no dorso dos cotilédones (diz-se de radícula)»; 4 «que toca a, que cabe a»; 5 «que dá incumbência».
Por conseguinte vemos que nenhuma destas significações se relaciona com o exemplo apresentado pela pergunta. Pesquisas na Internet permitiram-me perceber que “incumbents” está a ser usado em inglês no sentido de «quadros de empresa em postos de chefia», definindo um grupo social; é, portanto, um termo especializado, utilizado no âmbito da sociologia e da gestão.
O contexto da pergunta sugere, pois, que os “incumbentes” é uma tradução literal e apressada deste uso em inglês, a qual deverá ser evitada (agradeço a ajuda do Dr. Garry Mullender na interpretação do termo “incumbents”). Porque não usar «quadros de empresa» ou «quadros de chefia»?1
1Um consulente do Brasil, Carlos Mello, informa-me de que «a palavra inglesa "incumbent" não se refere somente aos quadros de direção de uma empresa, mas também aquelas empresas que dominam o mercado — no Brasil, por exemplo, a Coca-Cola é "incumbent" no ramo dos refrigerantes, a GE no da fabricação de lâmpadas, a Petrobras na distribuição de derivados de petróleo». O consulente mais esclarece que tem traduzido o anglicismo por «empresa líder», embora esta solução não lhe agrade. Confesso que não consigo encontrar outra tradução, pelo que a que é proposta me parece, por enquanto, aceitável.
N. A. (12/01/2021) – Em Portugal, com as eleições presidenciais de 24 de janeiro de 2021, o uso de incumbente ganhou atualidade, pois a expressão «presidente incumbente» tornou-se ocorrência assídua no discurso mediático, para referir o presidente em final de mandato, Marcelo Rebelo de Sousa. Citem-se dois exemplos: «Presidente incumbente anunciou esta segunda-feira a recandidatura ao cargo de Presidente da República» (TVI24, 07/12/2020); «[António Costa Pinto] sublinha que o Presidente da República, "incumbente em exercício" e recandidato, permitiu este interesse, de tão confortável que está, ao dispor-se a bater-se com todos os adversários» (Diário de Notícias, 12/01/2021). A comunicação social brasileira faculta abundantes exemplos de incumbente (ver Folha de São Paulo e O Globo). Acontece que a expressão «presidente incumbente» é a tradução literal ou decalque do inglês «president incumbent», expressão que denota o/a presidente em funções, seja ele/ela recandidato/a em eleições ou não. Como em português existem expressões vernáculas que, para fazer referência a tal situação, têm uso bem enraizado – «o atual presidente», «o presidente (ainda) exercício/funções» (cf. Dicionário Infopédia Inglês-Português) –, não se vislumbra razão expressiva ou lógica para, em português, se preferir o anglicismo semântico (ver também os apontamentos de Helder Guégués no blogue Linguagista).