Procurar, «há dias», o que os teóricos tentam há milhares de anos, não deveria ser tão desesperante. Os textos procuram os seus modos de ser, não é? Nesse esforço de tradição ou ruptura, em que se procura imitação recriadora, ou transfiguradora, de situações e sentimentos, aquilo que, desde Aristóteles, se chama mimese executa-se num triplo jogo: pessoas e acontecimentos, ou seja, objectos; de forma directa ou teatral e indirecta ou narrativa: são os modos; e servindo-se de meios como os registos e níveis linguísticos, os tropos, a versificação, etc. Temos, assim, a emergência dos grandes géneros, o épico ou narrativo (em que alguém conta, fazendo-nos ouvir) e o dramático (em que nos relacionamos directamente com o dito e o representado, em que vemos). Este ainda se dividia nos subgéneros da tragédia e da comédia, com diferentes imposições no tocante aos heróis, aos sentimentos, à linguagem, à métrica, etc. A lírica, que já na República de Platão se entrevê como «poesia não-mimética», é normativizada no séc. XVI, e, menos do que representar, serve para expressar uma subjectividade. Claro que uma peça de teatro (p. ex., Castro, de António Ferreira) ou um poema épico-narrativo (como Os Lusíadas) também podem fazer isso, mas parcialmente; o conceito formalista de dominante torna-se aqui produtivo, porque clarifica casos em que o texto (e os textos bons estão sempre em luta contra os géneros) mistura preocupações genéricas várias, como quando dizemos «romances líricos» certas ficções de Vergílio Ferreira e não consideramos poesia as centenas de livros de versos que todos os dias invadem o mercado. Interveio, entretanto, o conceito de literariedade, comum a quaisquer textos que se pretendam literários. Mas não faltam manuais que se demoram sobre um dos aspectos mais estudados na tradição ocidental.