DÚVIDAS

Funções sintáticas dos pronomes pessoais

No livro de exercícios Gramática Activa I, de Olga Mata Coimbra e Isabel Coimbra, edição Lidel, aparece como pronomes pessoais do complemento directo me, te, o/a, nos vos, os/as e como pronomes do complemento indirecto me, te, lhe, nos, vos, lhes.

A minha dúvida recai sobre os pronomes da 1.ª e 2.ª pessoas do singular e do plural, como exemplos apresentam as seguintes frases:

Como pronomes pessoais do complemento directo «– Não consigo levantar o caixote. Ajudas-me?/– Ajudo-te já. É só um minuto» e «–Podes levar-nos a casa?/– Está bem. Eu levo-vos.»

Como pronomes pessoais do complemento indirecto: «– Apetece-te alguma coisa?/– Apetece-me um gelado» e «– O que é que nos perguntaste?/– Perguntei-vos se vocês estão em casa hoje à noite.»

Reformulando cada frase introduzindo a preposição a (por excelência a preposição que inicia o complemento indirecto) resultaria algo como:

«– Podes ajudar a mim?/– Eu posso ajudar a ti»; «– Podes levar a nós a casa?/– Eu levo a vós a casa» (ex. do comp. directo);

«– Apetece alguma coisa a ti?/– A mim apetece um gelado»; «– O que perguntaste a nós?/– A vós perguntei se estão em casa» (ex. comp. indirecto).

Como poderei distinguir se um me, te, nos, ou vos é o pronome pessoal de um complemento ou do outro, já que todos me parecem ser do indirecto?

Resposta

No que diz respeito à função sintática objeto direto (OD), Celso Cunha e Lindley Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo, p. 144, na secção dedicada à análise dos vários subtipos de objeto direto, notam a existência do chamado «objeto direto pleonástico»: «Quando se quer chamar a atenção para o objeto direto que precede o verbo, costuma-se repeti-lo. É o que se chama objeto direto pleonástico, em cuja constituição entra sempre um pronome pessoal átono: Palavras cria-as o tempo e o tempo as mata.[...] Árvore, filho e livro, queria-os perfeitos.» [...] O objeto direto pleonástico pode também ser constituído de um pronome átono e de uma forma pronominal tónica preposicionada: A mim, ninguém me espera em casa. [...] Não te mirou a ti, a ti também sem cor! [...] Encontrou-nos a nós.»

Assim, tendo em conta estas reflexões, e reportando-nos diretamente aos exemplos sugeridos pela prezada consulente, direi que as perguntas corretas deverão ser «Podes-me ajudar a mim? – Eu posso-te ajudar a ti»; «Podes-nos levar a nós a casa? – Eu levo-vos a vós/vocês a casa.»

Relativamente à deteção do objeto indireto (OI), julgo que o raciocínio deverá ser muito semelhante, sendo que, nos enunciados apresentados pela consulente, facilmente identificamos a existência dos dois tipos de objeto (isto é, direto e indireto): «Apetece-te [OI] alguma coisa [OD] a ti [OI]? – A mim [OI], apetece-me [OI] um gelado [OD]»; «O que é que nos [OI] perguntaste a nós [OI]? – A vós, perguntei-vos [OI] se estais em casa [OD].»

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