Segundo Lindley Cintra e Celso Cunha, «no interior da oração, [a vírgula] serve [...] para isolar o vocativo: — Que ideias tétricas, minha senhora! [...] — D. Glória, a senhora persiste na ideia de meter o nosso Bentinho no seminário? [...] — Como é que tu te chamas, ó rapaz? [...]» (Nova Gramática do Português Contemporâneo, p. 641).
Assim, no contexto sugerido pelo prezado consulente, os constituintes «Oh! pesadelo terrível»/«Oh! sofrimento brutal», para serem considerados, efetivamente, do ponto de vista sintático, vocativos, deveriam, em princípio, estar isolados por vírgulas. Não o estando, e recorrendo o enunciador, paralelamente, à 3.ª pessoa do singular/plural do verbo fazer («faz»/«fazem»), podemos considerar que se trata, eventualmente, de um possível desabafo do sujeito que enuncia a citada frase, refletindo este, por exemplo, sobre a situação-limite a que chegou a sua vida pessoal. Se, por outro lado, o enunciador se dirige, de facto, através do recurso à personificação, ao «pesadelo» e ao «sofrimento», julgo que seria importante e útil optar pela presença da vírgula, assim como pela utilização do verbo fazer na 2.ª pessoa do singular/plural («fazes» «fazeis»).
Naturalmente que, neste enquadramento específico, o posterior surgimento de uma oração subordinada adjetiva relativa explicativa será, digamos assim, uma consequência colateral da colocação da vírgula, que deverá ter sempre como objetivo central o isolamento do(s) vocativo(s).
Na frase «Oh! velho amigo, que me vem alegrar» (com o verbo vir na 3.ª pessoa do singular), não existindo, à partida, uma personificação, poder-se-á considerar que estamos igualmente perante uma espécie de desabafo, feito, neste caso, na presença do próprio interlocutor. Isto é, «Oh! velho amigo» não deixará de ser um vocativo, fazendo o enunciador, ao mesmo tempo, um comentário, por assim dizer, «para o ar». Já na formulação «Oh! velho amigo, que me vens alegrar» (com a opção pela 2.ª pessoa do singular do verbo vir), o comentário «que me vens alegrar» será direta e explicitamente dirigido ao referido interlocutor. No caso desta frase concreta (independentemente de o verbo vir se encontrar na 2.ª ou na 3.ª pessoa do singular), já me parece francamente marginal a não colocação da vírgula depois do substantivo amigo, visto que dificilmente conseguiremos entrever um contexto em que o constituinte «Oh meu amigo» não seja considerado, numa perspetiva sintática, vocativo.