As diferenças que sente na nossa resposta anterior assemelham-se ao que sentimos quando consultamos um dicionário geral e o comparamos com um dicionário especializado. O nível de precisão, e de especialização, não é, nunca, igual. Além disso, quando as nuances entre os termos são mínimas, a linguagem nem sempre, por si só, consegue ser inteiramente esclarecedora, assumindo aí os exemplos um papel crucial. A questão fundamental que coloca prende-se com as diferenças entre os termos fonte (tipográfica) e tipo (de letra) utilizados hoje em dia de forma mais ou menos indiscriminada, mesmo em alguns meios das artes gráficas, para o que involuntariamente contribuíram os programas informáticos de processamento de texto e a própria tipografia digital, em que essa separação não é tão nítida. Ensaiando uma explicação inteligível para todos, e introduzindo aqui também o conceito de família tipográfica, diria que: uma família tipográfica compreende o conjunto de todas as variantes de um tipo de letra, entendendo-se por variante a inclinação (redondo ou itálico), a espessura (fino, normal ou negrito) e a largura (comprimido, condensado ou estendido); o tipo de letra compreende o conjunto de fontes de uma mesma família tipográfica, e a fonte tipográfica é apenas uma variante de um tipo de letra. Pegando no exemplo que deu, o Times New Roman é um tipo de letra, e o Times New Roman Negrito é uma fonte tipográfica que pertence à família tipográfica do Times New Roman. Não é também de descurar neste contexto a própria evolução dos conceitos suscitada pela tipografia digital. Antes dela, em português de Portugal, o termo fonte era, aliás, muito pouco utilizado. Note ainda, relativamente ao corpo, ao tamanho da letra, por exemplo, que, na tipografia digital, por assentar em programas de desenho vectorial, essa característica passou a fazer parte integrante da respectiva fonte, enquanto na tipografia física os diferentes tamanhos de fontes tinham existência aut{#ó|ô}noma. E a situação não irá, porventura, ficar por aqui. Ainda há poucos meses constatei que a Microsoft, após ter amplamente divulgado o uso do termo fonte, parece ter deixado de o utilizar. No Windows 7, por exemplo, fala-se em família de tipos de letra e em tipos de letra individuais (fontes).
Por último, atendendo a que juntou os conceitos de kerning e de spacing, e de modo a torná-los inteligíveis a não especialistas, o kerning ou compensação é o ajustamento do espaço entre dois caracteres de modo a obter a distância ideal entre eles, e o spacing ou espaçamento é o espaço entre caracteres, palavras ou linhas. Ambos visam a clareza tipográfica, a consistência e a fluidez do texto impresso. Em português fala-se na entreletra, para ilustrar o espaço entre caracteres, e na entrelinha, ou entrelinhamento, para ilustrar o espaço entre linhas. O texto tipograficamente escorreito será aquele em que o leitor se mova com facilidade entre palavras e linhas. Kerning e spacing organizam espaços. Há quem faça mesmo o paralelo da tipografia com a música e refira que se as letras são o som, os espaços são o silêncio, não vivendo as primeiras sem os segundos.