Gostaria, antes de mais, de agradecer a forma atenta como leu a resposta que dei. Consciente da minha falibilidade, é sempre bom verificar que ela pode ser notada, o que é um estímulo para melhorar. Procurarei esclarecer, explicitando melhor, os conceitos que referi na resposta supracitada.
Plural – Eu deveria, talvez, ter dito que o equivalente à 1.ª pessoa do singular, eu, é a 1.ª pessoa do plural, nós. Considera-se aqui, num plano estritamente gramatical, plural como uma das duas possibilidades de obter o número das palavras que possuem este tipo de flexão. Com efeito, as palavras que variam em número podem estar no singular, quando designam uma só entidade (ou um conjunto entendido como um todo), ou no plural, quando se referem a duas ou mais entidades.
É porque esta possibilidade existe que os falantes de português reconhecem em (1a), (2a) e (3a) a forma plural de (1), (2) e (3):
(1) Eu saio
(2) Tu sais
(3) Ele/Ela sai
(1a) Nós saímos
(2a) Vós saís
(3a) Eles/Elas saem
Norma – Para mim, a norma é constituída por um conjunto de regras que me permitem ajuizar sobre a boa formação de uma palavra, ou de uma frase, e situá-la no registo adequado, pelo menos segundo o meu conhecimento do mundo.
É esse conjunto de regras ou princípios que me permite considerar correcta, ou, se preferir, aceitável, a frase (1a) Nós saímos e situá-la num registo mais formal do que a sua equivalente A gente sai. É também ele que me permite reagir à frase A gente saímos, por não a considerar muito adequada, dado que não cumpre a regra de concordância entre o sujeito e o predicado.
Creio que este conceito se aproxima do que dizem Edite Estrela e João D. Pinto Correia no Guia Essencial da Língua Portuguesa para a Comunicação Social, Editorial Notícias, Lisboa:
A norma é, por um lado, «… a língua não marcada, isto é, a língua que um indivíduo adequa estritamente a uma situação, no seu emprego corrente (…)»; por outro lado, «norma quererá significar sistema de instruções que definem o que deve ser escolhido de entre os usos de uma determinada língua se se quiser que ela esteja conforme a um certo ideal estético ou sociocultural».