DÚVIDAS

«Estar grávida de...»

As pessoas costumam empregar as duas frases: «Carla Bruni pode estar grávida do presidente» (Diário de Notícias – 11/01/08) e «Fernanda Serrano grávida do terceiro filho» (Caras – 15/01/09). Como posso evitar mal-entendidos, deixando claro que, se a Carla Bruni estiver grávida, o pai do bebé é o presidente, e que nascerá o terceiro filho da Fernanda Serrano?

Resposta

A sua pergunta é bastante interessante. Numa pesquisa pelo Google, encontrei outras expressões que poderíamos acrescentar às duas que refere:

(1) «Grávida de gémeos»

(2) «Grávida de 7 meses»

(3) «Grávida do terceiro filho»

(4) «Grávida do marido»

(5) «Grávida de um rapaz»

(6) «Grávida do João»

(7) «Grávida de esperança»

(8) «Grávida de novo»

Se, em vez do nome grávida, utilizarmos o verbo, obtemos resultados semelhantes (exce{#p|}to para o exemplo (2) — o asterisco indica que a expressão é agramatical):

(9) «Engravidou de gémeos»

(10) *«Engravidou de sete meses»

(11) «Engravidou do terceiro filho»

(12) «Engravidou do marido»

(13) «Engravidou de um rapaz»

(14) «Engravidou do João»

(15) «Engravidou de esperança»

(16) «Engravidou de novo»

A partir da análise das diversas expressões, poderemos dizer que os vários complementos, quer do nome, quer do verbo, adquirem sentido com base no valor semântico do complemento.

Quando esse complemento indica a origem do processo, digamos assim, então o nome que segue a preposição designa o pai. Esta situação só se torna ambígua nas situações ilustradas com os exemplos (13) e (14), em que o nome que segue a preposição poderá designar uma entidade que reúne as condições para ser pai (rapaz e João). Nesses casos, a menos que se conheçam as pessoas e situações envolvidas, não é possível identificar se o complemento designa o pai da criança ou a própria criança. Em casos como este, é preciso introduzir informações suplementares que permitam eliminar a ambiguidade, ou reformular o texto.

Nos exemplos que cita, porque ser presidente não é uma condição predefinida à nascença, como por exemplo príncipe, não me parece haver ambiguidade. Com efeito, ninguém nasce presidente, pelo que a expressão «grávida do presidente» não é interpretada pelos falantes de português como designando uma pessoa que transporta no ventre um presidente. A entidade que o nome designa poderá apenas ser o pai. Também na expressão «grávida do terceiro filho», o nome filho designa o fim do processo, o que é incompatível com a paternidade, pelo que a frase não é ambígua.

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