DÚVIDAS

Eis como anáfora

Considerando que advérbios não retomam ideias ou coisas, como eis, sendo um advérbio, pode retomar algo, como na passagem «Luzes pálidas iluminam os prédios cinzas da cidade. Eis São Paulo às sete da noite»?


Também tenho de elogiar o trabalho neste portal, vocês estão de parabéns!

Resposta

Eis recebe na gramática tradicional a classificação de advérbio de designação. Do ponto de vista semântico-referencial, é considerado um deíctico. Como tal, eis pode cumprir funções anafóricas quando aponta, não para um espaço circundante ao locutor e ao interlocutor, mas para um segmento anterior do discurso.


Exemplo:


«Ainda na secção dos colunistas, há as mulheres colunistas. Umas são especialistas em determinado campo, outras são especializadas em generalidades, como a Clara Pinto Correia, que escreve em todas as revistas ou, se não escreve, podia escrever. À excepção desta, aliás, quase nenhuma das outras escreve bem. São acolhidas, não por serem a melhor escolha, mas porque são mulheres. Eis um critério coerente. (...)» (Miguel Sousa Tavares, Público, 27 de Agosto de 1993)


Neste excerto, eis, na última frase, faz a retoma do conteúdo da frase anterior.


No excerto que o consulente apresenta, há um dado curioso a acrescentar. É que o segmento a retomar é uma descrição, e eis promove a ambig{#u|ü}idade entre a visualização física de S. Paulo e a criação mental de uma imagem da cidade através da leitura desse segmento descritivo. Ler e ver são uma e mesma coisa.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa