Não há nada que justifique esta alteração ortográfica na placa toponímica da capela de Padornelo. A grafia correcta é Ecce homo (como está na Vulgata) ou Ecce Homo (pelo respeito que infunde a figura em questão), mas sempre sem hífen.
Julgo que este erro pode ter que ver com o facto de eis, vocábulo lusitano que corresponde a ecce, se grafar com hífen, quando antecede os chamados pronomes átonos: «eis-nos», «ei-los», «ei-la», «eis-me». Seja como for, em latim é sempre sem hífen, mesmo quando o respectivo advérbio antecede essas formas pronominais: ecce me.
Refira-se por último, para os menos avisados, que ecce homo (que se pode traduzir literalmente por «eis o homem» e livremente por «aqui está ele») são as palavras com que Pôncio Pilatos (São João, 19, 5, na tradução latina da Vulgata) mostrou aos judeus Jesus com a coroa de espinhos e o manto de púrpura. Empregam-se, por vezes de forma jocosa, para anunciar a chegada de alguém, sobretudo quando se trata de personagem (pretensamente) importante.
Sugiro que o nosso prezado leitor escreva uma carta de protesto a quem de direito em Padornelo, para que seja reposta a verdade gramatical...