Quer a ocorrência do pronome «vós» quer a expressão «Tágides minhas» são vocativos que aparecem justapostos.
Este caso encontra paralelo num exemplo apresentado por Celso Cunha e Lindley Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo, 1984, p. 159):
1 – «Tu, Deus, o Inspirador, Taumaturgo e Adivinho,/ Dá-me alívio ao pesar [..].» (Alphonsus de Guimaraens)
O que vemos em 1 é, por um lado, «tu» como realização do sujeito da ocorrência de imperativo «dá», e, por outro, «Deus», à semelhança de «Tágides minhas» no exemplo em discussão, a ocorrer como chamamento ou apelo. A coocorrência de «tu» com a forma de imperativo correspondente é vista como uma instância de vocativo, conforme propõe o gramático brasileiro Evanilo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa, 2002, p. 461; mantém-se ortografia do original): «[em] "Tu! -parte! volve para os lares teus!" [...] tu não é o sujeito de parte, e sim vocativo, "espécie de aposição à idéia do sujeito, contida no imperativo" [...].»
Contudo, supondo a possibilidade de interpretar «Tágides minhas» como modificador apositivo, deve assinalar-se que a supressão do pronome pessoal, não envolvendo a de «Tágides minhas», sugere que esta expressão ocorre exatamente com a mesma função de «tu», ou seja, como vocativo:
2 – «Tágides minhas, dai-me um som alto e sublimado.»
Em 2, «Tágides minhas» continua a ser um vocativo, mesmo que apaguemos «vós» em «E vós, Tágides minhas...». Se esta expressão fosse um modificador apositivo do vocativo, faria parte do vocativo e, assim, também seria omitida, como aconteceria em 1, no caso de supressão do vocativo «Deus»:
1 – «Tu [...] dá-me alívio ao pesar [...]»
Em 1, omitiu-se «Deus» e, com ele, o modificador apositivo «o Inspirador, Taumaturgo e Adivinho». Em 2, pelo contrário, a omissão de «vós» não acarretou a de «Tágides minhas».