A palavra desterrado é um particípio passado, ou seja, trata-se de uma forma de flexão do verbo desterrar: «Mas não; não era ainda ali o ponto para onde Mário fora desterrado [...]» (A. Silva Gaio, Mário, episódios das lutas civis portuguesas de 1820-1834, 1974 in Corpus do Português, de Mark Davies e Michael Ferreira). Este particípio pode ter uso adjetival, como acontece a muitos particípios passados: «Mas da qual, entretanto, eu, desterrado e triste, Sinto no coração, ralado de ansiedade, Uma saudade eterna» (Olavo Bilac, Sarças de Fogo, 1888, idem); ocorre ainda como substantivo: «Assim se despediram, e assim se foi, só, o desterrado; dizem que lá se fizera monge e acabara em santa vida» (Almeida Garrett, O Arco de Sant´Ana, idem). De acordo com o Dicionário Houaiss, o sufixo -ado normalmente «ocorre em pal. adjetivas, substantivas e em nomes (adjetivos/substantivos), devendo-se ter em conta que é a desin. do part. pas. da 1.ª conj., do lat. -ātu-, -āta- > -ado, -ada (padrão amātu-, amāta- > amado, amada)».
Contudo, deve considerar-se também o processo de derivação por parassíntese na formação do verbo desterrar, visível no infinitivo: des- + terr- + ar (ou seja, o prefixo des- e o sufixo -ar juntam-se simultaneamente ao radical nominal terr-, de terra). Em suma, o verbo desterrar é derivado por parassíntese; desterrado só indiretamente o é, devendo em primeiro lugar ser encarado como uma forma da flexão desse verbo, quando particípio, ou como conversão, quando adjetivo e substantivo.