DÚVIDAS

Deícticos em Auto-Retrato (Alexandre O´Neill)

                    Auto-retrato

 

O'Neill (Alexandre), moreno português,
cabelo asa de corvo; da angústia da cara,
nariguete que sobrepuja de através
a ferida desdenhosa e não cicatrizada.
Se a viagem de tal sujeito é o que vês
(omita-se o olho triste e a testa iluminada)
o retrato moral também tem os seus quês
(aqui, uma pequena frase censurada...).

Gostaria que me indicassem 5 deícticos no texto.

Obrigado.

Resposta

Antes de se indicar alguns dos deícticos presentes no poema Auto-Retrato, de Alexandre O’Neil, é de referir que «os deícticos remetem verbalmente para referentes específicos do acto enunciativo» (Dicionário Terminológico). Trata-se, por isso, de signos que «assinalam o sujeito enunciador, o sujeito a quem se dirige o acto enunciativo, o tempo e o espaço da enunciação» (idem), tendo como «ponto primordial de cálculo o sujeito que fala, no momento em que fala». Portanto, têm valor de deícticos «os pronomes pessoais, os pronomes e determinantes possessivos, os pronomes e determinantes demonstrativos, os artigos, os advérbios com valor locativo e temporal, os tempos verbais e ainda algumas preposições e locuções prepositivas, alguns adjectivos e alguns nomes […] que tenham valor referencial, ou seja, que designem entidades reconhecíveis num determinado contexto discursivo» (idem).

Tendo em conta que o poema Auto-Retrato gira à roda da tentativa da construção da imagem do sujeito poético, da sua caracterização física e psicológica, vários são os signos com valor referencial do próprio sujeito poético, razão pela qual se trata, nesse contexto discursivo, de deícticos quando se observam os seguintes exemplos: 

— «O'Neill (Alexandre)», o próprio nome que o designa e identifica;
— « tal sujeito»;
— « o que»
— «os seus quês»
— «aqui».
ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa