Um facho era uma matéria inflamável que se acendia de noite para dar rebate de que se aproximava o inimigo ou para dar qualquer sinal, para servir de guia, etc. Facho tem como sinónimos archote, brandão, lanterna, luzeiro, tição aceso, chama, luz.
Deste significado material, construíram-se outros, e facho também passou a significar tudo o que esclarece ou serve de luz intelectual, de norte, de guia e ainda tudo o que serve de elemento para suscitar, alimentar ou desenvolver paixões (discussões, tomadas de posição). Nesta acepção surge, por exemplo, o termo «brandir o facho da discórdia». É que um facho, além de alumiar, também serve para pegar fogo a algo, para incendiar, materialmente ou não. É o que se pode ver nesta frase da obra No Bom Jesus do Monte, de Camilo Castelo Branco: «Se lá vais, atiras com um facho infernal ao seio daquela família.»
Da dupla acepção de facho como «chama, luz (visível na escuridão)» e como «algo que suscita ou alimenta paixões», surge o regionalismo de Trás-os-Montes facho com o significado de «mulher malcomportada». Trata-se de uma mulher que, como um facho, não passa despercebida, dá nas vistas e, também, uma mulher de quem se fala, que suscita discussões entre as pessoas, que dá azo a falatório, a coscuvilhices, a bisbilhotices.
No Algarve, facho também é usado com o significado de «má maneira, mau preparo, má apresentação no vestir» (por exemplo: «Não tens vergonha de vir para a rua nesse facho?»). Essa maneira de vestir dará nas vistas (como um facho) e provocará, naturalmente, falatório entre as pessoas.
Chegamos, assim, à expressão «dar ao facho», que significará «bisbilhotar, coscuvilhar para pôr alguém com a visibilidade de um facho e fazer com que as pessoas falem sobre essa pessoa», ou seja, «fazer com que haja falatório a respeito de algo ou de alguém».