Sem vírgula, é recomendável «nos é»: «Ainda hoje nos é...» Com vírgula, «é-nos»: «Ainda hoje, é-nos...»
É difícil dar uma explicação exaustiva da utilidade da vírgula. Contudo, dado que este sinal marca uma pausa, a expressão «ainda hoje» com vírgula mostra que ainda modifica ou afecta sobretudo hoje, pelo que as duas palavras constituem uma unidade com certa coesão na frase, não obrigando à colocação do pronome antes do verbo. Sem vírgula, a ligação entre «ainda» e «hoje» é mais ténue, havendo a possibilidade de hoje se deslocar na frase: «Ainda nos é dado verificar hoje que...». Neste caso, é ainda que determina a anteposição do pronome, como é regra: «ainda te iludes?»
Note que esta explicação é uma entre as possíveis. Além disso, argumentei que o uso da vírgula é recomendável no caso em que o pronome vai posposto, mas não me parece obrigatório. Pelo menos, não o é da mesma maneira que assim, que, através de uma vírgula, pode revelar duas acepções diferentes (e, no entanto, próximas):
(3) «Tínhamos combinado ir ao cinema, mas estás atrasada. Assim, decidi não sair.» [isto é, «concluindo, perante o que acabei de expor»]
(4) «Assim não saio.»[isto é, «nesta situação», «desta maneira»]
Diria que, em (3), assim tem valor textual ou discursivo, enquanto na frase (4) tem um valor mais indicativo, remetendo para o contexto comunicacional (mesmo que tenha sido criada pelo que se acabou de ser dito).