DÚVIDAS

As orações comparativas e as concessivas como modificadores

Relativamente às funções sintácticas (FS) desempenhadas pelas orações subordinadas adverbiais, julgo estar certa ao dizer que:

— as causais, as finais e as temporais desempenham sempre a FS de modificador (frásico) do grupo verbal (GV);

— as concessivas e as condicionais desempenham sempre a FS de modificador (frásico) da frase;

— as comparativas e as consecutivas (aquelas que, julgo, têm pouca, ou nenhuma, mobilidade) também são modificadores. E agora aqui vai a dúvida: são modificadores da frase, ou do GV?

Grata pela prontidão com que a equipa do Ciberdúvidas sempre me responde!

Resposta

Concordo com a análise que faz nas duas primeiras situações. Acompanho-a, igualmente, nas dúvidas quanto às comparativas e às consecutivas. No capítulo 17 da Gramática da Língua Portuguesa, de Mira Mateus e outras, Ana Maria Brito considera, na página 697, adverbiais as condicionais, causais, finais, concessivas e temporais. Em nota, na mesma página, diz-se que «as comparativas, as consecutivas e as proporcionais típicas não têm propriedades de subordinação». As comparativas e as consecutivas são estudadas à parte, no capítulo 18, por Ana Maria Brito e Gabriela Matos, aproximando-as das estruturas de coordenação, por um lado, e das estruturas de subordinação adjectiva, por outro.

As autoras, num estudo bastante pormenorizado, consideram que em alguns aspectos as comparativas se aproximam das coordenadas correlativas. Dão como exemplo, na página 745, as frases seguintes:

«(45) Ele consultou mais jornais do que revistas.»
«(46) Ele consultou não só jornais como revistas.»

Estabelecem ainda relação entre as comparativas e as relativas. Por um lado, porque umas e outras podem incidir sobre um elemento da frase, em exemplo como «O João é [mais inteligente do que trabalhador]». Frases como esta ilustram igualmente a ocorrência das comparativas em estruturas lacunares, que as subordinadas prototípicas não admitem: «O João é mais inteligente do que [é] trabalhador.»

As consecutivas, por seu lado, são comparadas com as conclusivas ou com as explicativas:

«O Luís é tão inteligente, que descobriu de imediato a solução do problema.»
«O Luís é inteligente; logo, descobriu de imediato a solução do problema.»
«O Luís é inteligente, pois descobriu de imediato a solução do problema.»

Nenhuma das estruturas (consecutivas ou comparativas) tem mobilidade na frase mais alta, ou seja, a oração que é introduzida pela conjunção tem de vir sempre em segundo lugar, até porque, na maioria das situações, depende de um elemento, correlativo, que surge na primeira oração.

Sem pretender ser exaustiva, espero ter demonstrado que comparativas e consecutivas, por um lado, podem modificar um elemento da frase, sem ser especificamente o grupo verbal e sim, por exemplo, um nome ou um adjectivo; por outro lado, a sua classificação como adverbiais não é consensual. Quanto à função que desempenham na frase mais alta, é preciso ter atenção ao contexto específico em que cada uma ocorre para se poder fazer uma análise mais precisa e rigorosa.

Com alunos do ensino secundário, provavelmente o mais adequado será inseri-las nas adverbiais, salientando que, em alguns aspectos – como, por exemplo, na mobilidade –, são diferentes, sem ir mais além.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa