Tudo seria muito simples se pudessem ser feitas as correspondências sugeridas na pergunta, mas não é assim que se passa. Na antiga Nomenclatura Gramatical Portuguesa (NGP), o adjectivo qualificativo podia desempenhar as funções sintácticas de predicativo do sujeito, de atributo e de aposto. De acordo com a actual TLEBS, o adjectivo qualificativo pode preencher três posições numa frase: a de predicativo, a de modificador (restritivo ou apositivo) do nome e a de complemento do nome. Temos em ambos os casos uma divisão ternária, mas não há uma correspondência exacta termo a termo entre a NGP e TLEBS.
A primeira função sintáctica não oferece tantas dúvidas, porque se manteve.
Reconhece-se pela coocorrência de um verbo copulativo, por exemplo, ser. Assim, em «a casa é bonita», o adjectivo bonita é o predicativo do sujeito.
Para além de predicativo, outra função frequente do adjectivo é a de modificador, quando apenas faculta informação acessória sobre o nome. Exemplificando: em «um estudante atento» temos o adjectivo atento, que atribui uma propriedade que individualiza a entidade designada por estudante. Neste caso, o modificador restringe a referência do nome modificado, chamando-se modificador restritivo, com uma função próxima do atributo, mas não idêntica, como explicarei mais abaixo. O modificador de nome adjectival pode ainda ser apositivo; por exemplo, quando se diz «o estudante, atento, seguiu toda a lição», verifica-se que atento assume uma função idêntica à da expressão «jovem atento» em «o estudante, jovem atento, seguiu toda a lição». Nesta situação, o modificador apositivo da TLEBS corresponde totalmente ao aposto da antiga NGP.
Até aqui tudo pareceria conceptualmente semelhante à NGP, apesar dos termos diferentes. No entanto, é preciso notar que a maior novidade da TLEBS reside agora no contraste (atenção que este contraste é teórica e empiricamente motivado) entre modificador adjectival do nome e complemento do nome. Este é uma expressão seleccionada por um nome. Na expressão «o porteiro do hotel», por exemplo, «do hotel» é o complemento preposicional de porteiro, porque na definição deste nome é por vezes necessário especificar o respectivo conceito.
Do mesmo modo, um adjectivo pode também especificar um nome, como em «a proposta americana», na qual o adjectivo americana especifica o nome proposta, mas não de uma forma acessória como atento em «estudante atento». Se o nome modificado for relacionável com um verbo, um adjectivo ou uma expressão introduzida por preposição, é também possível relacioná-lo com a sintaxe desse verbo, desse adjectivo ou dessa expressão. Por exemplo, proposta é um nome derivado de propor, verbo que é construído com um sujeito (quem propõe) e com um complemento directo (o que é proposto). O que «proposta americana» mostra é que «americana» é complemento do nome, porque significa o mesmo que «dos americanos» em «proposta dos americanos», por sua vez equivalente a «os americanos propuseram [qualquer coisa]».
Este caso mostra como não são apenas os verbos que seleccionam complementos; os nomes e os adjectivos também os seleccionam, bastando lembrar exemplos como «medo do escuro» e «útil aos alunos». Estes complementos não são de realização lexical obrigatória, mas permitem especificar o conceito veiculado pelo respectivo nome.
Concluindo, a alteração mais significativa, do ponto de vista conceptual, situa-se na procura do termo da TLEBS que corresponda ao antigo termo atributo. Este encontra-se actualmente repartido por dois termos, o modificador adjectival restritivo e o complemento [adjectival] do nome.