Não consegui encontrar até agora condenação explícita ou implícita da locução adverbial «ao calhas» nem em gramáticas, nem em dicionários, nem em outras obras de carácter normativo. É possível que a expressão original fosse «ao calha» e que o processo que levou a «ao calhas» seja o mesmo que leva actualmente a alterar a interjeição pronto para "prontos" (forma já registada Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa).
Saliente-se que, além do Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, o Dicionário das Expressões Populares Portuguesas (1984), de Guilherme Augusto Simões, regista «ao calhas». Parece-me, portanto, que a expressão terá tido origem popular, o que constitui uma pista para o enquadramento da forma com s, calhas. Este s final poderá bem ser um plural, se a forma calha for interpretada como um nome masculino derivado do verbo calhar. Repare-se que se diz «ao calha» e não «à calha», o que significa que não estamos a discutir a palavra do género feminino calha, «sulco, cano aberto por onde corre água».
Mas, porquê o s? Há certos advérbios e locuções adverbiais que terminam assim. Por exemplo, existe a locução «ao revés», que tem uma palavra também terminada em s, mas que não é plural. Poderíamos então pensar que houvesse uma analogia com revés. Contudo, a locução «ao revés» não é das mais frequentes, o que torna a relação duvidosa.
Em conclusão, considero que «ao calhas» é uma forma que já está enraizada no português corrente, pelo que é aceitável. Se surgiu como erro, à semelhança de "prontos" (cuja emergência ainda está por esclarecer), é uma questão à qual não posso por enquanto dar resposta.
Resta-me acrescentar que não encontrei qualquer atestação de «ao calhar», mas não quero com isto dizer que esta variante é de rejeitar. Pode até ser mais transparente em relação ao significado que transmite.