Alfinete-de-ama é a forma recomendada. Designa peça metálica cuja ponta se prende na cavidade da extremidade oposta – para evitar que se desprenda ou pique quem o ultilize – com que se prende a roupa ou a fralda de um bebé.* É assim, e só assim, que o regista Rebelo Gonçalves no Vocabulário da Língua Portuguesa (Coimbra Editora, 1966). É assim que também vem no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa (que também regista a variante alfinete-de-senhora). E é o que faz, também, D’Silvas Filho, no seu Prontuário de Erros Corrigidos. A verdade é que a maioria dos dicionários contemporâneos portugueses já abona o sinónimo alfinete-de-dama.
Não encontrei explicação para a diferença, mas, tendo até em conta o que a seguir se transcreve da história do invento do objecto, alfinete-de-ama, a forma mais usual e antiga em Portugal, talvez tenha que ver mais com sua utilização prática (pelas amas que usavam esses alfinetes nas fraldas dos bebés), enquanto a outra, alfinete-de-dama, talvez provenha da sua vertente de adorno (pelas damas).
No Brasil, emprega-se alfinete de segurança ou joaninha.
Como se lhe refere o livro História das Coisas, de Pancracio Celdrán (Notícias Editorial, Lisboa) trata-se de um objecto pré-histórico, inventado, em forma de alfinete de segurança, feito de ouro dobrado, utilizado há mais de 2700 anos pelo povo etrusco, para prender a roupa.
«Era semelhante a um broche que impossibilitava que o manto ou a túnica se abrissem e deixassem o indivíduo exposto na sua nudez. Mas, antes do povo etrusco, o cretense conhecera um alfinete-de-ama muito parecido ao do nosso tempo, que utilizava para fixar a roupa drapeada. Também a Grécia o empregou, numa forma ainda muito rudimentar: um alfinete dobrado, cuja ponta encaixava numa ranhura ou gancho, que impedia que resvalasse e se soltasse.
«Mas o reiventor deste curioso atefacto tem nome: o norte-americano Walter Hunt, que teve a sua engenhosa ideia numa tarde em que, não tendo nada melhor que fazer, se entretinha a dar voltas a um pedaço de arame, que fazia adoptar as formas mais diversa. Sem querer... inventou o alfinete-de-ama. O verdadeiro invento de Hunt foi a volta circular dada ao alfinete no seu ponto de curvatura, o que servia de mola em espiral. O próprio inventor explicaria, mais tarde, que aquela descoberta não lhe levou mais de três horas, num dia de 1840. Com ela saldou uma dívida que tinha para com um desenhador seu amigo, sendo perdoado dos 15 dólares que lhe devia... em troca daquele invento; mais: ofereceu-lhe 400 dólares pela patente, graças ao que o desenhador J. R. Chaplin fez o negócio da sua vida.
«É certo que Hunt inventara um objecto que já existia. O seu mérito residia em tê-lo aperfeiçoado. De facto, o que ele tinha conseguido era esconder o bico, resguardando-o e evitando assim que pudesse danificar o tecido. O alfinete do ano 1000 antes de Cristo já era um alfinete-de-ama, mas, desde aquele tempo distante, o bico ficara exposto. Tanto o alfinete antigo como o invento de Walter Hunt eram alfinetes em U. No entanto, a pequena modificação introduzida pelo norte-americano era de tal transcendência, que revolucionou por completo o futuro daquele artefacto. Foi então que se começou a falar de "alfinete-de-ama" ou "alfinete de segurança". O seu êxito foi rápido, de tal forma, que o alfinete-de-ama teve um papel capital quando se tratou de encontrar soluções novas para velhos problemas de costura. Foi conquistando posições que muitas vezes o afastavam da sua finalidade inicial, até o converterem num mero elemento decorativo: os alfinetes-de-ama grandes, de ouro e prata, cobertos de pedrarias, que serviam de broches, no princípio do (...) século [XX]. Mais tarde, em tempos que todos podemos recordar, colocou-se, na parte inferior dos "kilts", enormes alfinetes de arame, dando lugar a uma falsa prega que os elevava alguns centímetros, fazendo com que o observador daquela beatífica visão esperasse que a subida continuasse... e deixasse ver, por fim, o esplendor da peça inteira. Era a moda do "safety-pin", que fez furor em Inglaterra na década de 1960. Na realidade, como disse um comentarista da moda daquela época, "nunca algo tão útil estivera ao serviço de um fim tão estúpido".
«Mas a História e a moda, que não passa da constatação da passagem e da substituição dos gostos do Homem por outros... são assim.»
* Não confundir com alfinete de peito, alfinete de gravata, simplesmente alfinete ou pregadeira: um adorno em forma de alfinete que se prega no peitilho de uma mulher ou na gravata de um homem Por exemplo: «alfinete de brilhantes».
N.E. – (20/09203) Com a entrada em vigor do Acordo Ortográfico de 1990 – e conforme o ponto 6 da Base XV. Do hífen em compostos, locuções e encadeamentos vocabulares –, alfinete de ama passou a escrever-se sem hífen.