DÚVIDAS

Ainda o uso do hífen

Na “Nova Gramática do Português Contemporâneo”, de Celso Cunha e de Lindley Cintra, em página de que já me não recordo, encontrei um hífen a medear estes dois termos: “morfo-sintáctico”. Vacilante, tentei ancorar-me no «Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa», em que Rebelo Gonçalves, na página 250, reputa “inadmissível o uso do hífen nos compostos em que um elemento de origem substantiva, proveniente do grego ou do latim e terminado em 'o', se combina com um ou mais substantivos ou adjectivos”. Perante esta asserção, questionei-me se seria eu quem não teria interpretado bem a regra ou se a «Gramática» estaria em colisão com o «Tratado». Será, pois, em Rebelo Gonçalves que deverei sustentar os meus argumentos em favor da supressão do hífen em “morfossintáctico” ou em “morfossintaxe”? Ou deverei seguir antes o que este mesmo autor escreve (pág. 216) para “fonético-sintáctico”?

P.S. – De acordo com a regra supratranscrita, não deveria A. Tavares Louro rever o que escreveu sobre “ovário-histerectomia”, em 6 de Outubro de 2003? É que, para este caso, Rebelo Gonçalves não deixa margem para dúvida: impõe-se a “elisão do 'o' final de um elemento, antes de vogal ou 'h' + vogal (suprimindo-se o 'h')”: "ovaristerectomia".

Resposta

A utilização do hífen nas palavras compostas justifica-se fundamentalmente por razões ortográficas para que a leitura seja feita de acordo com as regras básicas do valor dos símbolos gráficos também chamados letras.

Em função do contexto, a letra s tem mais de um valor. Em posição inicial ou depois de hífen vale [s], e entre vogais vale [z].

Deste modo, para que se tenha de manter o valor [s], é necessário usar o hífen ou dobrar esta consoante.

Como estamos perante um neologismo, não há unidade de critérios, mesmo entre as autoridades no domínio da linguística.

O professor João Malaca Casteleiro usou a forma morfo-sintaxe no seu trabalho Sintaxe Transformacional do Adjectivo – Instituto Nacional de Investigação Científica – Lisboa, 1981; em contrapartida, o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, editado pelo Círculo de Leitores, Lisboa, 2003, regista morfossintáctico e morfossintasse.

Esta segunda forma tem a vantagem de evitar o uso do hífen. Em contrapartida, o hífen tem a vantagem de realçar os dois componentes desta palavra.

Esperamos que a situação fique definida com o futuro Acordo Ortográfico.

Ovário-histerectomia

Aqui a situação é bastante diferente.

Os dicionários registam ovariotomia e histerectomia.

Se unirmos estas duas palavras, devemos manter o primeiro elemento ovário e o segundo, histerectomia porque, embora os ovários e o útero estejam próximos e ligados, são unidades bem identificadas pelos peritos.

O maior obstáculo está na eliminação do h da palavra histerectomia, que não será eliminado no próximo acordo ortográfico.

A nossa ortografia não é apenas fonética. Ela é também histórica e tradicional. A letra h não tem, neste caso, valor fonético, mas irá manter-se, de acordo com a sua ortografia histórica.

Damos exemplos de palavras que não irão perder a letra h quando aceitarmos o Acordo Ortográfico Luso-Brasileiro: anti-higiénico; círcum-hospitalar; semi-hospitalar; sub-hepático; super-homem. 

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