Sim, partilho da sua opinião. A sugestão que deixei é apenas um modo de contornar as ambiguidades que podem surgir relativamente ao uso dos termos em causa, mas há que ter em conta que, como é óbvio, o termo quadrimestral só se aplica a acontecimentos que se dão de quatro em quatro meses, a ideia de três vezes por ano encontra-se implícita, mas há que ter em conta que não se pode generalizar para todos os casos esta aplicação do termo como, muito bem, o consulente observa.
Este é, de facto, um tema problemático, uma vez que parece não haver, tanto quanto eu conheço, uma denominação satisfatória para as realidades distintas que apresentou:
a) «acontecimento que ocorre três vezes por ano»;
b) «acontecimento que ocorre de três em três anos»;
c) «acontecimento que dura três anos».
Estes são três conceitos que são usados indistintamente como significados dos termos: trienal, trisanual e trianual (utilizado pelos falantes, mas não registado nos dicionários consultados). Os dicionários consultados são pouco precisos relativamente a estas denominações, pelo que deixo um inventário de alguns destes de modo a perceber esta assistematicidade:
• Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa:
trienal (adj. 2 gén.) – que tem, teve ou terá a duração de três anos; que dura um triénio (período de três anos), renovando-se ao fim desse espaço de tempo (sinónimo de trisanual); que é nomeado por três anos; que é conferido ou exercido por três anos; que se efectua de três em três anos; que tem validade por três anos; que dá fruto apenas de três em três anos; que só dá fruto três anos após a sementeira ou a plantação.
trisanual (adj. 2 gén.) – o mesmo que trienal.
trianual – (o termo não se encontra registado).
• Dicionário da Língua Portuguesa 2003 da Porto Editora:
trienal (adj. 2 gén.) – que dura três anos; que é conferido ou exercido durante três anos; diz-se das plantas que só dão fruto três anos após a sua plantação ou de três em três anos.
trisanual – igual a trienal.
trianual – (o termo não se encontra registado).
• Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa:
trienal (adj. 2 gén.) – que dura três anos; que é nomeado por três anos; que tem validade por três anos; que se realiza de três em três anos; que vive três anos (diz-se de planta); que só dá fruto no terceiro ano após a plantação (diz-se de terra).
trisanual (adj.) – que dura três anos; que ocorre de três em três anos.
trianual – (o termo não se encontra registado).
• Dicionário Aurélio – Edição séc. XXI:
trienal (adj.) – que dura um triênio; que serve durante um triênio; que frutifica de três em três anos.
trienal (s.f.) – exposição (de arte, em geral) que se realiza de três em três anos.
trisanual – (o termo não se encontra registado).
trianual – (o termo não se encontra registado).
• Moderno Dicionário da Língua Portuguesa – Michaelis
trienal (adj. 2 gén.) – que dura três anos; que serve por três anos; que é nomeado por três anos; que dá fruto de três em três anos (falando de plantas ou terras).
trisanual (adj. 2 gén.) – que dura três anos; que se faz ou aparece de três em três anos.
trianual – (o termo não se encontra registado).
Verifica-se, deste modo, que não há nenhuma acepção deste termo que preencha a categoria “acontecimento que ocorre três vezes por ano” e que, por sua vez, os termos trienal e trisanual preenchem as mesmas realidades.
Quanto à observação que faz, relativamente aos linguistas, aproveito para esclarecer alguns pontos que considero fundamentais e que frequentemente causam alguma confusão. Em primeiro lugar, devo esclarecer que não cabe aos linguistas separar os significados dos termos. A função dos linguistas é outra, é a de estudar fenómenos da língua. Deste modo, os linguistas não fazem a língua, estudam-na.
A língua constrói-se, muda, evolui através do uso e os responsáveis por esse uso são os falantes, são eles que com a sua criatividade constroem, criam novos termos ou arranjam novos significados para termos já existentes. Os responsáveis pelo registo destes termos nos dicionários de língua são os lexicógrafos. Estes estudam os vocabulários específicos da língua e registam-nos nos dicionários. Os dicionários são óptimos e indispensáveis instrumentos de trabalho, de consulta e de referência. No entanto, encontram-se sempre atrasados em relação à língua, isto é, são trabalhos extensos que exigem uma revisão muito frequente e não conseguem acompanhar nos seus registos a evolução da língua que, por sua vez, acompanha as novas realidades e a necessidade de denominar novos conceitos a grande velocidade.
Em suma, os falantes fazem a língua, os lexicógrafos registam-na e os linguistas estudam-na.