No caso em apreço, a vírgula indica que a presença de dois complementos oblíquos, sendo o segundo um aposto – menos convencional, é certo, porque o aposto é considerado como constituinte dentro de um grupo nominal. Se a vírgula for retirada («lá à praia»), deve considerar-se um único grupo sintático, resultante da combinatória de um advérbio de lugar (dêitico) – lá – com uma expressão locativa plena – «à praia».
A Gramática do Português (2013, pág. 1621), da Fundação Calouste Gulbenkian, refere-se a casos semelhantes aos de «eu fui lá, à praia» do seguinte modo:
«Dada a imprecisão dimensional do espaço referido pelos advérbios de lugar dêiticos [...], estes ocorrem frequentemente em combinação com expressões locativas plenas – em geral sintagmas preposicionais – que tornam mais precisa a sua referência, como se ilustra nos seguintes exemplos:
(82) a. O livro está aqui {ao meu lado/à minha frente}.
b. Vou aí ao teu escritório.
c. Comprei esse presunto ali naquela mercearia.
d. Encontramo-nos cá em casa ou lá na faculdade.
Em exemplos deste tipo, o advérbio e o sintagma que o segue estão incluídos no mesmo constituinte sintático e definem um só grupo prosódico; ou seja, na oralidade não tem necessariamente de existir uma pausa entre o advérbio e o sintagma seguinte. Essa pausa, no entanto, pode existir; cf., por exemplo, relativamente a (82b), «vou aí, ao teu escritório» (com a pausa assinalada através da vírgula). Neste caso, o sintagma que segue o advérbio tem o estatuto de um aposto, formando um grupo prosódico autónomo. Semanticamente, é subtil (se não mesmo nula) a diferença entre os exemplos de (82) e os correspondentes com pausa. Poder-se-ia talvez dizer que, no primeiro caso, a informação veiculada pelo sintagma é sentida como uma especificação do advérbio, ao passo que no segundo caso é sentida como um comentário sobre o advérbio.»