Em nome do Ciberdúvidas, agradeço as suas palavras iniciais.
A conjugação do verbo colorir, a par de abolir, demolir ou polir, é tema controverso para gramáticos normativos e dicionaristas. Há quem defenda que o verbo colorir deve ser descrito como defectivo, comportando-se como abolir ou polir:
«[...] só se conjugam nas formas em cuja desinência existe i» (Napoleão Mendes de Almeida, Dicionário de Questões Vernáculas, São Paulo, Edições Ática, 4.ª edição).
Esta posição é referida por Maria Helena Moura Neves, no Guia de Uso do Português (São Paulo, Editora UNESP, 2003, na descrição que esta investigadora faz do uso de colorir (mantenho a ortografia do original):
«Verbo defectivo, conjuga-se apenas nas formas em que ao R se segue E ou I. Não existe, pois, a primeira pessoa do presente do indicativo, e, conseqüentemente, o presente do subjuntivo. Seus assistentes COLORIAM folhas de cartolina. [...] Palette, a maravilhosa espuma que — sem tingir — lava e COLORE seu cabelo, na discrição de sua casa!»
Alguns manuais só registam a existência de formas com desinência iniciada por i.
É esta também a conjugação que o Dicionário Houaiss atribui ao verbo colorir. O mesmo faz Evanildo Bechara, na Moderna Gramática Portuguesa (Rio de Janeiro, Editora Lucerna, 2002, pág. 226):
«A defectividade verbal é devida a várias razões, entre as quais a eufonia e a significação. Entretanto, a defectividade de certos verbos não se assenta em bases morfológicas, mas em razões do uso e da norma vigentes em certos momentos da história da língua. Daí certa disparidade que por vezes se encontra na relação das gramáticas. Se a tradição da língua dispensa, por dissonante, a 1.ª pessoa do singular do verbo colorir (coloro), não se mostra igualmente exigente com a 1.ª pessoa do singular do verbo colorar. Por outro lado, o critério de eufonia pode variar com o tempo e com o gosto dos escritores; daí aparecer de vez em quando uma forma verbal que a gramática diz não ser usada. É na 3.ª conj. que se encontra a maioria dos verbos defectivos.»
Além de mostrarem que classificar um verbo como defectivo não é acto sem discussão, as palavras de Bechara indicam, sem aprovar, a possibilidade de a 1.ª pessoa de colorir ser coloro, conforme se diz na fonte referida pelo consulente. Quanto à forma coluro, encontro-a apenas em fontes publicadas em Portugal; por exemplo, em Rodrigo de Sá Nogueira, Dicionário de Verbos Portugueses Conjugados (Lisboa, Clássica Editora, 1986), onde se rejeita a classificação do verbo como defectivo e se apresenta a conjugação completa: coluro na primeira pessoa do singular do presente do indicativo e colura, coluras, colura, coluramos, colurais, coluram no presente do conjuntivo. São estas as formas também registadas no Dicionário Priberam.
Perante opiniões tão desencontradas, que fazer? Sugiro que fiquemos a meio caminho e adoptemos o uso e o critério apresentados acima, nas citações de Moura Neves (op. cit.) e Bechara (op. cit.), os quais parecem ser os mais frequentes em gramáticas e dicionários de verbos publicados quer em Portugal quer no Brasil.
Quanto ao verbo colorar, este é regular, tendo todas as formas da conjugação (ver acima Bechara).