Segundo a Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Cunha e Cintra, «Chamam-se concretos os substantivos que designam os seres propriamente ditos, isto é, os nomes de pessoas, de lugares, de instituições, de um género, de uma espécie ou de um dos seus representantes: homem, Pedro, cidade, Lisboa, Fórum, clero, árvore, cedro, cão, Rocinante... (...) Dá-se o nome de abstractos aos substantivos que designam noções, acções, estados e qualidades (...): justiça, verdade, glória, colheita, viagem, opinião...» (1984, p. 178).
Ora, de acordo com as definições propostas, silêncio e riso classificar-se-iam como nomes abstractos (Leia-se também, a este respeito, a elucidativa resposta de Edite Prada).
Porém, no Dicionário Terminológico (DT), estes dois termos (nomes concretos e nomes abstractos) foram definitivamente eliminados, por serem considerados «inadequados [e] não corresponderem a um observável linguístico óbvio» (Revisão da Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário, ME, DGIDC, Janeiro de 2008, p. 6). Assim, no DT (B.3.1./Classe aberta de palavras/Nome/Classes de nomes), os nomes/substantivos encontram-se classificados da seguinte forma: nomes próprios/nomes comuns, sendo que, dentro da classe dos nomes comuns se integram os nomes contáveis e os nomes não-contáveis. Finalmente, dentro de cada uma destas duas últimas categorias referidas (contáveis e não contáveis), enquadram-se ainda os nomes colectivos. Deste modo, podemos ter algo do género: nomes comuns, contáveis, colectivos (ex.: rebanho, alcateia, multidão), ou nomes comuns, não contáveis, colectivos (ex.: fauna, flora).
Por outro lado, interessa-nos aqui reproduzir as definições de nomes contáveis e nomes não contáveis propostas pelo DT:
«Nome Contável — nomes comuns que se aplicam a objectos ou referentes que podem ser diferenciados como partes singulares ou partes plurais de um conjunto (i). Assim, podem ocorrer em construções de enumeração (ii) e a forma de plural marca uma oposição quantitativa (iii):
(ii) Um [aluno] estudou muito, dois [alunos] faltaram, e muitos quiseram mudar a data do teste.
(iii) Um aluno/dois alunos/muitos alunos.»
«Nome não-contável — Nomes comuns que se aplicam a conjuntos de objectos ou entidades em que não é possível distinguir partes singulares de partes plurais, conforme exemplos (i) a (iii). Por esta razão, estes nomes não ocorrem, tipicamente, em construções de enumeração (iv) nem co-ocorrem com alguns quantificadores e determinantes (v). As construções de plural dos nomes não-contáveis não designam uma oposição quantitativa, mas sim qualitativa (vi), excepto quando se faz uma contagem relativa a contadores não explícitos (vii).
(ii) Essa peça de [bronze] devia estar no museu.
(iii) A [educação] é essencial para a democracia.
(iv) *Uma educação, duas educações,
(v) *Certas / várias educações, ...
(vi) Há várias farinhas no mercado. (= existem várias qualidades de farinha no mercado).
(vii) Comprei dois sumos. (= comprei dois (pacotes de) sumo).»
Assim, de acordo com o exposto, as palavras silêncio e riso são ambas classificadas como nomes comuns não-contáveis, sendo que se diz «o silêncio» e «o riso». As expressões «os silêncios» e «os risos» referem-se a tipos de silêncio e a tipos de riso, o que não é compatível com a ideia de plural como marca quantitativa, ao contrário do que acontece, por exemplo, com a palavra caneta («uma caneta»/«duas canetas»). Deste modo, no caso das palavras em apreço, o plural é aceite exclusivamente como marca qualitativa.