A palavra essente ocorre no poema O Verbo e a Morte (1959), de Vitorino Nemésio, e pontualmente em textos de carácter ensaístico; por exemplo, num estudo, do qual transcrevo a seguinte passagem (itálico meu):
«De Natália Correia (Açores: o lugar do Espírito, em Cultura Portuguesa, 1, 1981, Ponte Delgada, Signo, 1989, p. 9-11) bem poderíamos cantar que é "a voz de todos nós" ao afirmar "a plenitude do Ser contra o precário do Estar, onde os horrendos casos de estrondos e urros vulcânicos humilham o enfatuado poder do existente sobre o essente.»
Trata-se de termo de carácter filosófico que está de facto relacionado com o substantivo essência; em registos não especializados usa-se essencial. No artigo dedicado a essente pela Logos – Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia (vol. 2, Lisboa/São Paulo, Editorial Verbo, 1990), pode ler-se o seguinte sobre a génese deste termo:
«Xavier Zubiri supôs que [em latim] essens, como presumível particípio presente formado sobre o infinitivo esse, teria dado o tema para a formação de essentia. (Sobre la Esencia, 1962, p. 3). Com tal errada suposição formou a trad[ução] espanhola esente. Em português, essente é um neologismo, filologicamente incorrecto, cuja formação e sentido foram induzidos pelo uso filosófico de essência, que, por sua vez, deve a sua origem à falta de vocábulo latino para traduzir a acepção aristotélica de ουσíα. [...] Essente é aquilo que na situação existencial concita o homem a fazer a sua própria essência. A vigência deste sentido poetiza-se em alguns poemas de O Verbo e a Morte (1959): "Que ele é Deus mesmo no absoluto/Ser contestado, tão essente/Que se faz Deus na voz que escuto,/Mesmo que o negue, e me desmente» (p. 22.) Aqui essente é o próprio Deus ao fazer-se Deus na relação salvífica à historicidade existencial do homem. No poema Casa do Ser (p. 73), a metáfora casa essente revela, no cerne mesmo da língua, a função existencial atribuída ao discurso poético. Desta arte, o êxito poético dá legitimidade literária ao neologismo filosófico. [...]»
P. S.: Na pergunta, a ortografia está correcta.