Ao contrário, por exemplo, do castelhano, a entrada desprivatizar não surge em nenhum dos dicionários de português consultados. No entanto, esta palavra apresenta uma formulação perfeitamente aceitável e comum no âmbito das regras de formação de palavras na língua portuguesa, já que o prefixo des- exprime a ideia de «separação, afastamento, ablação, acção contrária, de cima para baixo, intensidade, reforço» (Infopédia). Assim, desprivatizar significará o contrário de privatizar, isto é, estatizar, nacionalizar. São estas, aliás, as formas aceites na língua portuguesa como antónimos de privatizar (cf. Dicionário Eletrônico Houaiss e Dicionário de Sinónimos e Antónimos do jornal Público).
Valerá ainda a pena dizer que o verbo desprivatizar (assim como formas linguísticas com ele relacionadas) é utilizado de modo corrente na maioria dos meios de comunicação social portugueses e brasileiros de referência (ex.: «Bloco de Esquerda propõe desprivatizações na água e na energia», Jornal de Negócios online, 1/9/2009; «Eu vou desprivatizar, nesse sentido, toda a administração pública, inclusive as empresas», excerto da entrevista de José Serra, candidato à presidência da República Brasileira, TV Globo, 1/9/2010). Porém, se fizermos uma análise mais fina, verificamos que este termo apenas é associado, na esmagadora maioria das vezes, a instituições, empresas ou serviços que já pertenceram, em tempos, ao Estado, chegando-se mesmo a optar, neste contexto específico, pelo termo renacionalização (ex.: «PCP fala em renacionalização da COSEC», www.rtp.pt, 15/5/2009), que também não consta de nenhum instrumento linguístico consultado, mas que, mais uma vez, respeita os processos de formação de palavras admitidos na língua portuguesa.
Quando nos referimos a uma empresa, instituição ou serviço que passa, pela primeira vez, para as mãos do sector público, como foi o caso recente, por exemplo, do BPN, os verbos preferenciais a usar deverão ser claramente estatizar ou nacionalizar.