Carantonha pode ser considerada uma palavra complexa, que modifica cara por sufixação1. Entre outras acepções2, é o mesmo que «cara grande», ou seja, um aumentativo de cara. Sucede, porém, que só uma análise morfológica diacrónica consegue dar conta da sua constituição, como indica o Dicionário Houaiss:
«orig[em] contr[o]v[ersa]; J[osé Pedro] M[achado] considera de orig. obsc.; A[ntônio] G[eraldo da] C[unha] liga a cara, mas de formação estranha, talvez relacionado a carântula; Corominas considera o esp[anhol] carantoña da mesma orig[em] que carántula, do lat[im] charactēr, que tardiamente tomou o sentido de 'símbolo mágico'; pode-se postular t[am]b[ém] um suf[ixo] -antonha, de aum[entativo] algo pejorativo [...].»
Por conseguinte, direi, na perspectiva do português contemporâneo, que -antonha é um sufixo, mas com a característica de ter baixa ou nula produtividade, já que ocorre num único item lexical, carantonha.
1 O termo modificação morfológica é aplicado por Alina Villalva na Gramática da Língua Portuguesa (Porto, Editorial Caminho, 2003, págs. 956-965), como um tipo de afixação. Assinale-se, contudo, que no Dicionário Terminológico, destinado ao ensino básico e secundário em Portugal, não se fala em modificação, apenas se indicando a afixação como um tipo de formação de palavras por derivação.
2 Por exemplo, «caraça», «cara fechada», «cara feia», «carranca», «alteração intencional do rosto», «esgar», «careta», «máscara grotesca ou extremamente feia» (cf. Dicionário Houaiss).