O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 (AO90) não altera nenhum dos nomes próprios apresentados, assim como mantém a grafia dos antropónimos portugueses. Os casos de alteração referem-se a nomes próprios derivados de antropónimos estrangeiros, como se pode verificar nas indicações da Base I — «DO ALFABETO E DOS NOMES PRÓPRIOS ESTRANGEIROS E SEUS DERIVADOS» —, estando tais alterações associadas, sobretudo, à inclusão das letras k, w e y ao alfabeto de língua portuguesa, às combinações gráficas ou sinais diacríticos invulgares à nossa grafia e aos casos das consoantes finais b, c, d, g e h. Para que não haja dúvidas, importa citar as partes (2.º, 3.º, 4.º e 5.º da Base I) do texto do AO que se referem a antropónimos:
2. As letras k, w e y usam-se nos seguintes casos especiais: a) Em antropónimos/antropônimos originários de outras línguas e seus derivados: Franklin, frankliniano; Kant, kantismo; Darwin, darwinismo; Wagner, wagneriano; Byron, byroniano; Taylor, taylorista; […]
3. Em congruência com o número anterior, mantém-se nos vocábulos derivados eruditamente de nomes próprios estrangeiros quaisquer combinações gráficas ou sinais diacríticos não peculiares à nossa escrita que figurem nesses nomes: comtista, de Comte; garrettiano, de Garrett; jeffersónia/jeffersônia, de Jefferson; mülleriano, de Müller; shakesperiano, de Shakespeare.
Os vocabulários autorizados registarão grafias alternativas admissíveis, em casos de divulgação de certas palavras de tal tipo de origem (a exemplo de fúcsia/fúchsia e derivados, bungavília/bunganvílea/bougainvíllea).
4. Os dígrafos finais de origem hebraica ch, ph e th podem conservar-se em formas onomásticas da tradição bíblica, como Baruch, Loth, Moloch, Ziph, ou então simplificar-se: Baruc, Lot, Moloc, Zif. Se qualquer um destes dígrafos, em formas do mesmo tipo, é invariavelmente mudo, elimina-se: José, Nazaré, em vez de Joseph, Nazareth; e se algum deles, por força do uso, permite adaptação, substitui-se, recebendo uma adição vocálica: Judite, em vez de Judith.
5. As consoantes finais grafadas b, c, d, g e h mantêm-se, quer sejam mudas, quer proferidas, nas formas onomásticas em que o uso as consagrou, nomeadamente antropónimos/antropônimos e topónimos/topônimos da tradição bíblica; Jacob, Job, Moab, Isaac, David, Gad; Gog, Magog; Bensabat, Josafat.
Integram-se também nesta forma: Cid, em que o d é sempre pronunciado; Madrid e Valhadolid, em que o d ora é pronunciado, ora não; e Calecut ou Calicut, em que o t se encontra nas mesmas condições.
Nada impede, entretanto, que dos antropónimos/antropônimos em apreço sejam usados sem a consoante final Jó, Davi e Jacó.
Como se pode observar, o AO90 respeita a grafia original de antropónimos de origem estrangeira (eruditos ou não), admitindo, também, a respectiva adaptação à grafia actual da língua portuguesa. Por isso, dos nomes próprios apresentados pelo consulente, a forma Ivã é legítima (como variante actualizada), assim como a forma original russa Ivan — «do russo Ivan [forma que se deve ao grego Ioánnes, correspondente a João] que menciona um santo, de Praga, do séc. X, com este nome1» (José Pedro Machado, Dicionário Etimológico Onomástico da Língua Portuguesa, vol. II, 3.ª ed., Lisboa, Livros Horizonte, 2003, p. 816).
Sobre isto, importa referir que estas duas grafias — Ivã e Ivan (p. 351) — estão registadas como antropónimos («antr.») no recente Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (2009), da Porto Editora, assim como Argemiro (p. 75), Susana (p. 548), Marisa (p. 386), Isilda e, também, Isildo (p. 349).
Relativamente ao nome Isildinha, infere-se que o mesmo se tenha formado como diminutivo de Isilda, o que o legitima, a exemplo do que ocorreu com o antropónimo Teresinha (Santa Teresinha), diminutivo de Teresa.
1 Deve tratar-se de um lapso, porque a forma checa correspondente à grega é Jan, mesmo na Idade Média (comunicação pessoal do consultor Luciano Eduardo de Oliveira).