Pop-chula é um composto formado por pop, redução de «música pop», e chula, na acepção de «dança popular do Norte de Portugal, de andamento vagaroso, com canto acompanhado por rabecas, violas, guitarras e percussão» (Dicionário Houaiss). A sua criação tem valor onomatopaico1, isto é, a palavra formada visa a imitação de um som, neste caso, de um som musical.
Na letra de José Mário Branco, o termo ocorre em (sublinhado e parêntesis nossos):
«os santos não ajudam quem anda para aqui a encher pneus com este paleio de Sanzala em ritmo de pop-chula, não é, filho? A-one, a-two, a-one-two-three.
FMI dida didadi dadi dadi da didi [...] Dá-lhe no Travolta, dá-lhe no disco-sound, dá-lhe no pop-chula! Pop-chula, pop-chula, ié, ié!»
Contextualmente, a letra em questão alude ao apoio que o FMI deu a Portugal no princípio dos anos 80, o que significava, para certos sectores, a sujeição de Portugal ao capitalismo internacional. Neste contexto, pop-chula pode ser interpretado como uma criação irónica e sarcástica do compositor, associando o termo pop, característico da cultura de massas de origem anglo-saxónica, à palavra chula, evocadora de certo provincianismo português.
1 No Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa podemos ler: «a) as onomatopeias são ger. consideradas signos motivados, i.e., que têm relação objetiva – e não apenas arbitrária – com aquilo que significam (por evocação); quanto a isso, duas distinções principais devem ser feitas: 1) entre onomatopeias não linguísticas e linguísticas: aquelas imitam ou procuram imitar, mais ou menos fielmente, os sons do mundo com o aparelho fonador, sem necessariamente articularem a emissão vocal da maneira usualmente empr. na língua; já as onomatopeias linguísticas estão integradas ao sistema fonológico, tendo por isso uma semelhança apenas aproximativa e histórica e culturalmente cambiante com os sons imitados; pode-se fazer distinção semelhante entre representações gráficas de onomatopeias: há aquelas que seguem certas convenções ou regularidades ortográficas da língua (blém-blém; bibi-fonfom) e as us. ou criadas ad hoc (o motor falhou: fffrttoct) – mas note-se que uma grafia regular como cocoricó pode, num escrito, estar representando graficamente um grito imitativo (onomatopeia não linguística); 2) distinção entre onomatopeias brutas e gramaticalizadas (segundo J.-P. Reynvoet): aquelas são invariáveis e, freq., sintaticamente autônomas (não se combinam gramaticalmente com palavras para formar frases, embora possam, eventualmente, figurar como complementos diretos: o relógio fazia tiquetaque; tiquetaque, tiquetaque, e o tempo passava; a mulher resmungou: humpf): já no caso das onomatopeias ditas gramaticais, essas onomatopeias brutas (eventualmente substantivadas) funcionam como morfemas lexicais (lexemas) com os quais se combinam morfemas gramaticais (gramemas) para a formação de novas palavras — dito de outro modo, as onomatopeias gramaticais são derivados formados normalmente a partir de onomatopeias brutas (tiquetaque [subst., "o som/tiquetaque/do relógio"], tiquetaquear [v., "produzir o som/tiquetaque/"], *tiquetaqueante [adj. 2 g., "que faz o som/tiquetaque/"]) (...)»